Fonte http://www.listasliterarias.com/2020/01/10-consideracoes-sobre-35-ensaios-de.html
10 Considerações sobre 35 ensaios de Silviano Santiago, ou um tributo à crítica
O Blog Listas Literárias leu 35 ensaios de Silviano Santiago, selecionados e organizados por Italo Moriconi e publicado pela Companhia das Letras. Neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:
1 – Um tributo à crítica, mas não apenas isto. Também um exercício de e sobre a crítica, 35 Ensaios de Silviano Santiago reúne textos publicados em livros já fora de circulação e também ensaios e artigos recentes esparsos em diferentes lugares. Tudo isso selecionado e organizado por um dos profundos conhecedores da literatura nacional, Italo Moriconi. O resultado do trabalho é uma indispensável antologia a todos que respeitam e desejam se aprofundar em nossa cultura; também na crítica [literária];
2 – Vale destacar a posição de Silviano Santiago, provavelmente o crítico mais relevante destes tempos, com sólida produção e mais do que isso, capaz de superar [diga-se que argumento irrelevante] as críticas aos críticos, acusados por muitos de falarem do que não “sabem” fazer. Silviano Santiago não apenas é reconhecido crítico, mas também reconhecido ficcionista, que não raro imbrica as duas coisas, caso de seu elogiadíssimo Machado;
3 – Talvez isso colabore para que a crítica de Silviano Santigo seja considerada por Moriconi como uma metacrítica. Diz-nos Moriconi na apresentação do volume que “na metacrítica de Silviano, o deslocamento é um gesto crítico preventivo, é uma preliminar da empreitada metodológica . É o exercício da vontade de operar a substituição de um ponto de vista ou ou paradigma. É a dimensão contra-hegemônica que todo crítico deve ter, uma ideia mestra em seu ensaísmo”;
4 – Para tanto, a antologia está dividida em quatro partes temáticas que procuram reunir ensaios e artigos que se aproximam. A primeira desta parte é “geopolíticas e cultura” que reúne textos que em síntese se dedicam a observar a relação dialética entre cultura e sociedade, aí seus aspectos políticos. Em especial destaque nesta parte o ensaio “o entrelugar do discurso latino-americano” termo e conceito de Santiago que será importante em sua crítica;
5 – Na segunda parte “Literatura & Outras: Crítica e História” estão reunidos trabalhos que procuram cada qual produzir leituras e interpretações de relevantes obras do cânone com análises de romances indo dos de José de Alencar a Orlando, de Virgínia Woolf. Esta parte é especialmente interessante aos estudantes de letras envoltos com o desafio da produção de leitura crítica dando conta das diferentes possibilidades de leitura e interpretação de um texto;
6 – Em sua terceira parte, “Crítica do presente” temos um presente um tanto alongado, pois que reúne artigos e ensaios em boa parte de seus primeiros passos de consolidação na crítica, entre eles o essencial “Repressão e censura no campo das artes na década de 70” que escrito nos anos 80 é extremamente exitoso em diagnosticar e apontar as principais tendências e caminhos literários percorrido pelos autores no período após o golpe de 1964 [Ah, sim, e foi golpe, nunca é demais reforçar, já que não nos faltam viúvas saudosas do autoritarismo];
7 – A quarta e última parte é bastante literal em seu título “O livro sobre modernismo”. Nela estão reunidos artigos e ensaios sobre o talvez mais reverberante movimento literário nacional, isso tudo em abordagens que procuram afastamentos dos censo-comuns muitas vezes reforçados e repetidos sobre o modernismo brasileiro;
8 – Dito isto e resumido com assustadora brevidade as partições da respectiva publicação, vale comentar do desafio ao jovem leitor em produzir seu comentário acerca de um grande comentarista da literatura. Não nos sobra muito a que falar, pois que há nos textos de Santiago um minucioso trabalho crítico realizado com profundidade, erudição e acima de tudo, alicerçado com com a teoria, uma teoria subjacente à análise, entranhada em sua visão de mundo e de literatura, mas não exposta como uma fratura qualquer, já que exposta explicitamente a teoria o efeito é semelhante à fratura exposta de um osso, pode assustar quem a vê. Nesse sentido, os textos do crítico, fluem como uma dança sem o peso do querer-se teórico. São olhares coerentes para nossa literatura;
9 – Para tanto, é preciso reforçar-se o que diz Moriconi sobre a postura dos textos de Silviano Santiago. Retoma a metáfora dos faróis e propõe que para o crítico “que a relação entre o texto literário e a realidade social e histórica é de iluminação, não reflexo”. Tal observação justifica a firmação de que os trabalhos de Santiago “afirmam a literatura como força de vida”. Uma afirmação que deveríamos ouvir um tanto mais nos tempos de hoje em que a literatura tem sido intencionalmente negligenciada;
10 – Enfim, 35 Ensaios de Silviano Santiago é uma justa e necessária seleção de textos que não apenas analisam nossa literatura e cultura, mas que também demonstram o potencial destas enquanto iluminação de uma sociedade. Em sua crítica Silviano Santiago procura analisar e demonstrar tais relações carregadas de reciprocidade e também intencionalidades. Um leitura indispensável aos interessados em literatura.