Skip links

10 Considerações sobre A arte da guerra chinesa, de André Bueno, ou uma história da estratégia na China

Fonte http://www.listasliterarias.com/2020/03/10-consideracoes-sobre-arte-da-guerra.html

O Blog Listas Literárias leu A arte da guerra chinesa, de André Bueno publicado pela editora Madras; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:
1 – Enxuto e conciso, A arte da guerra chinesa, de André Bueno se propõe a apresentar aos leitores o percorrer histórico da escola de estrategistas chineses que vai além do popular Sunzi (Sun Tzu), percorrendo uma longa e milenar tradição até Mao Zedong (Mao Tsé-tung) por meio de um texto fluído que facilita a compreensão dos leitores quanto da relevância histórica e política destes importantes pensadores do oriente;
2 –  Assim, o livro como proposto realiza “uma travessia de séculos, saindo da China antiga – quando surgem os primeiros estrategistas da história – passando por autores conhecidos como Sunzi, ou nem tão conhecidos como Sima Rangju e Taigong, até chegarmos à história recente dessa civilização” quando a obra então analisará “o emprego dessas estratégias chinesas nas grandes guerras e na revolução comunista chinesa”;
3 – Aliás, o livro mostrará como Mao Zedong foi um exímio estudioso de tais estratégias, especialmente em seus estudos de Sunzi, de tal modo que o próprio autor sentirá necessário a explanação de que “não temos pretensão alguma de fazer deste livro um panfleto comunista ou pró-Mao” esclarecendo a necessidade de profunda análise justamente pela complexidade do personagem histórico, bem como por causa da importância que este deu/tratou os estudos de estratégia em suas ações;
4 – Contudo, retomando o estudo realizado na obra, o autor abre-o justamente versando sobre “a guerra na antiguidade chinesa” por considerar que “sem termos essa antiguidade em mente, torna-se impossível entender os modos pelos quais opera a mente chinesa”. Isso o leva, inclusive a tratar dantes, outras formas de pensamentos chinês, como o confucionismo e o legismo, construindo assim todo uma linha histórica de contexto demonstrando a relação dos estrategistas com estas outras formas de pensar;
5 – E é justamente esta análise ampla que leva Bueno a tratar tais estrategistas como uma outra escola do conhecimento chinês, tal como o daoismo, confucionismo, etc. Neste grupo de autores, os estrategistas, diz o autor, dedicaram-se “a estudar a arte da guerra e preparar-se para sua eventualidade”. Para eles, “a guerra, como algo evidente e prestes a acontecer, deveria ser estudada em seus pormenores, e seu vencedor ditaria as regras do futuro”;
6 – Assim, para além do mais que conhecido Sunzi e sua A arte da guerra [cuja tradução do título é questionada e criticada por Bueno] o leitor acaba conhecendo outros pensadores desta temática, alguns anteriores a Zunzi, como Taigong e Sima Rangiu, outros posteriores, caso das 36 estratégias de Liuji;
7 – Todavia, A lei da guerra [tradução de Bueno que julga-a mais próxima do proposto] não apenas perpassa toda a escrita do livro como é analisada em capítulo distinto, no qual exalta, por exemplo, “a clareza e o poder de síntese de seu texto”. Trata também dos adendos e comentários feitos aos textos originais, que de modo geral tiram de foco a simplicidade de Sunzi;
8 – Aliás, o livro é não apenas uma relato acerca dos estrategistas, mas traz também o jogo de poder entre as dinastias chinesas ao longo de séculos em que ora períodos mais curtos, ora períodos bastante longos vai trocando de mãos o comando de um vasto império. Nisso, mostra também, especialmente no caso de A lei da guerra, como o pensamento de Sunzi em determinados momentos é esquecido e noutros levado à redenção, uma redenção que perdura até hoje mesmo com o desgaste da desvirtuação dos tantos usos e aplicações que se pretendem para aquilo concebido originalmente como estudo para as guerras;
9 – Além disso, o livro mostra ainda como essa longa tradição de pensadores estrategistas vai atualizando o debate ao passo que as próprias guerras vão mudando. Também deixa claro a seu modo o quão caro possa custar compreensões erradas ou o ignorar de tais estudos, como muitas derrocadas trazidas ao longo da sucinta explanação;
10 – Enfim, embora focado na tradição dos estrategistas chineses, A arte da guerra chinesa traz para além disso uma síntese panorâmica de uma cultura milenar que nos atrai, mas que também da qual desconhecemos muito. Fala ainda da estratégia e seu uso nas guerras, percorrendo um longo caminho até às guerras mundiais e a Revolução Chinesa. Reforça por fim que “Sunzi mostra que na iminência de uma guerra toda a cultura, por mais perfeita que seja, encontra-se em perigo – e nesse caso, a preparação é um elemento definitivo para enfrentar qualquer crise”.

Leave a comment

Este site utiliza cookies para incrementar sua experiência.
Explorar
Puxar