Fonte http://www.listasliterarias.com/2020/05/10-consideracoes-sobre-codinome.html
10 Considerações sobre Codinome Villanelle, de Luke Jennings ou duas mulheres fatais, literalmente
O blog Listas Literárias leu Codinome Villanelle, de Luke Jennings publicado pela editora Suma; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro que inspirou a série Killing Eve, confira:
1 – Tiro, porrada e bomba poderíamos dizer sobre Codinome Villanelle, porém, a elegância com que o universo da espionagem e dos assassinatos aqui é trazido, nos leva a evitar a expressão, ainda que, em última instância, é o que temos ao longo da vertiginosa ação deste romance um tanto peculiar dentro do gênero;
2 – A primeira peculiaridade poderíamos citar é o protagonismo literalmente fatal do feminino em uma gênero narrativo que por muito tempo foi dominado pelo universo masculino e seus fetichismos, como nos romances de James Bond e suas pin-ups. Nesta obra de Jennings são duas poderosas mulheres a iniciar um embate levado quase à pessoalidade, um verdadeiro jogo da gata e rata em meio a assassinatos, viagens por diferentes países e o glamour envolvente das elites, oficiais ou não, locais por onde as duas, Villanelle, a assassina, e Eve, a espiã, tem de percorrer;
3 – Todavia, vale ressaltar que este primeiro romance é meio que um prelúdio de toda caçada. Acompanhamos o desenvolvimento da assassina Villanelle, e algumas de suas ações em meio a um jogo coberto por névoa e perigos, assim com o iniciar da investigação de Eve, que dá início a sua perseguição a misteriosa e desconhecida assassina que vem eliminando alvos importantes desse mundo paralelo do poder;
4 – Villanelle, retomando as peculiaridades da narrativa, em posto de certo antagonismo, imaginaríamos, é a própria protagonista, uma sociopata fria e calculista que treinada como máquina de matar, quando chamada ao trabalho, o faz com satisfação. Dotada de um forte erotismo bissexual a protagonista tem também no sexo e na beleza uma das suas ferramentas no jogo do poder e ainda uma facilitadora em sua profissão. Villanelle é extremamente fatal;
5 – Já Eve, que acaba tendo problemas no serviço secreto, mas procura por alguma redenção ao iniciar a vertiginosa caçada em uma equipe distinta, não é menos fatal que sua provável nêmesis. Entre a obstinação e a obsessão, que ao cabo se tornará ainda uma vingança, Eve é uma mulher arguta e de fibra, de modo que a constituição de ambas, nesta espécie de prelúdio sinalizam para uma aventura ainda mais intensa;
6 – Mas não que falte intensidade a este primeiro volume. Como dito, a ação é vertiginosa, um vai e vem por diferentes espaços narrativos. Geralmente espaços glamourizados como teatros, desfiles de moda, cafés parisienses… mas também o submundo dos puteiros e das gafieiras numa Shangai vibrante e iluminada;
7 – Nesse sentido o livro, então, se assemelha muito com as boas obras do gênero. Itinerante e mortal, o que só pode acabar agradando a seu público. Nesse jogo entre felina e roedora ambas desfilam pelo mundo, e desfilam com algum dinheiro e elegância, já que, seja entre terroristas, políticos ou apenas mafiosos, a linha de atuação é entre as mais elites do planeta, mostrando que sob a luz do público a selva é intensa;
8 – E falando em elegância chegamos a um elemento bastante peculiar e caracterizador da narrativa, seu pendor fashionista. A presença da moda é sem dúvida alguma elemento marcante no romance, e isso em todas as suas frentes, já que Eve também acaba trazendo alguma discussão nesse sentido. Mas será sobretudo Villanelle que entre um assassinato e outro desfilará pelo mundo totalmente em dia e considerando a moda. Vale dizer que o fashionismo presente é bastante orgânico e até mesmo amplia a verossimilhança da narrativa visto que elas habitam um “mundo” bastante exclusivo;
9 – Portanto, trata-se de uma obra com diferentes possibilidades e públicos. Mas acima de tudo trata-se de uma obra que ao que se propõe é bastante eficaz e nos leva à leitura com a voracidade que se exige nestas leituras. Do princípio ao fim somos tragados num belo trabalho de espionagem com duas mulheres cujo protagonismo embora bebam no femme fatale se distanciam deste porque geralmente a femme fatale intervia ou transpassava por algo, sem, todavia, ser de fato a protagonista da narrativa em que estava. Nisso Villanelle e Eve, especialmente a primeira, avançam a noção de femme fatale, elas não apenas participam ou atravessam algo, são esse algo de fato;
10 – Enfim, divertido e vibrante, Código Villanelle é uma boa leitura para quem gosta de narrativas frenéticas, violentas e sensuais. É literalmente o choque explosivo entre duas mulheres fatais e que deixam para o por vir a promessa de muitas outras explosões.