Fonte http://www.listasliterarias.com/2019/09/10-consideracoes-sobre-historia-da.html
10 Considerações sobre História da Literatura Brasileira, de Massaud Moisés, ou do desvairismo a tendências contemporâneas
O Blog Listas Literárias leu História da Literatura Brasileira, Volume III, Desvairismo e Tendências Contemporâneas, de Massaud Moisés publicado pela editora Cultrix; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:
1 – Terceiro volume de obra que reúne a história da literatura brasileira, neste Massaud Moisés apresenta um painel historiográfico da literatura brasileira tendo como ponto de partida e especial atenção o movimento modernista e seu desvairismo [trazendo todavia, o contexto pré-movimento] até os dias contemporâneos [mas um contemporâneo com já certa distância em nossos retrovisores] de modo que temos material farto para debate e estudos das principais influências literárias nas letras nacionais ao longo do século XX;
2 – Para tanto o autor acaba subdividindo sua obra em três grandes partes, começando por “desvairismo”, termo provocativo no prefácio de Pauliceia Desvairada (1922) em que Moisés trata do contexto de belle époque e futurismo que precederam e reverberaram no modernismo, dando destaque, claro, ao divisor de águas que foi a Semana de Arte Moderna de 1922 a partir de suas propostas e contradições;
3 – Uma segunda parte, “literatura engajada” trata da sequência do curso das águas do modernismo e do eclodir na letras nacionais de uma nova espécie de regionalismo que muitos pesquisadores chama de “romance social de 30” em que estão presentes, provavelmente, das mais significativas publicações de nossa literatura. Massaud Moisés além de trazer o perfil historiográfico do período e reunindo seus principais nomes, trata dos influxos e dos refluxos deste momento, que para alguns é chamado de segunda fase modernista;
4 – Na terceira parte “tendências contemporâneas” temos um painel a partir de 1945 com as publicações pós-guerra de uma literatura que vem sendo chamada de “geração de 45” que que inicia o que para alguns é a terceira fase do modernismo. Também nesta parte, Moisés dedica-se à narrativa contemporânea, mas um contemporâneo com alguma distância no retrovisor, observando alguns trabalhos relevantes dos anos oitenta e noventa. Vale dizer que ou autor, nesse sentido, procura limitar seu campo de observação a partir de uma escolha consciente da necessidade de maturação temporal da obra literária para que então possa-se pensá-la em termos históricos, de relevância e influência;
5 – Dito isto, vale destacar que o material é de farto conteúdo para os estudos literários e nos oferece um panorama bastante completo, bem como o faz de maneira a problematizar os momentos que debate, como quando diz da problemática da palavra “moderno” propondo que “o emprego do apelativo modernismo, não raro para assinalar tendências dissonantes, ainda que animadas pelo mesmo sopro iconoclasta, exprime nitidamente esse estado das coisas”;
6 – Isso mostra-se mais claro quando na comparação das fases que serve, inclusive, de partição da obra, e que de modo geral são levadas em consideração pelo consenso dos estudos literários. Quando trata da segunda parte, o autor, por exemplo, lembra-nos de que “se passou a considerar modernistas as épocas seguintes, quando, na verdade, outros valores estéticos entraram em vigência, não raro de sinal divergente, quando não oposto”;
7 – Tais questões prosseguem na discussão da geração de 45, “não propriamente em razão da II Guerra Mundial, mas nas transformações operadas em seu bojo, as tendências contemporâneas iniciam-se em 1945 e prolongam-se, de algum modo, até os nossos dias” em que o autor procura demonstrar que esse terceiro período representou tanto continuidade quanto ruptura com os ideias de 1922;
8 – Esse é o panorama por qual Massaud Moisés monta seu painel, bem como analisa tais períodos. Para tal, o autor reúne notas de uma vasta quantidade de autores e autoras, alguns, no presente, menos lembrados que outros. Obviamente, vale ressaltar que o autor procura aprofundar-se nos nomes mais expressivos de cada momento, tratando de suas obras e alguma – pequenas sempre – referências a seus contextos de publicação, o que em certo sentido, por vezes a história parece mais distante da literatura. Todavia, isso não afeta o alcance da discussão a a riqueza da amostragem e conteúdo da publicação;
9 – Mas, se de um lado, em grande parte Moisés destaca com a devida vênia os nomes mais relevantes de cada momento deste modernismo tripartido, vale contudo debater se em alguns momentos ele não titubeia, talvez por medo de superestimar determinados autores, o que a nosso ver fica mais evidente em sua postura perante a obra de Guimarães Rosa. Há um notado cuidado – ou temor – em não exagerar as qualidade da literatura de Rosa. Ademais, a este leitor, pelo menos, há a sensação que por vezes se a cautela de não superestimar autores, como o exemplo de Rosa, não é levada em consideração a cabo em outras observações. Além disso, obras interessantes como Os ratos, de Dyonélio Machado são subestimadas em suas referências e influências. Novas subestimações, mais uma vez na ótica deste frágil leitor, são feitas no que segue-se após o fim do ciclo da modernidade, para o autor a partir da publicação de Avalovara, pois há esquecimentos notáveis, como a subestimação de Paulo Lins e seu Cidade de Deus;
10 – Enfim, com as discussões, complexidades e contradições que uma obra de tal porte levantam, este volume, integrante de um conjunto de três publicações, é material consistente em seu conjunto e nos traz um panorama amplo iniciado em nossa literatura a partir do movimento modernista. Em termos historiográficos é material importante para pesquisas e estudos de nossa literatura.