Os rodoviários do Espírito Santo decidiram, na tarde desta segunda-feira (12), pela continuidade da greve, mas garantiram que serão mantidos 75% da frota nas ruas. A votação da categoria ocorreu em uma assembleia na Praça Oito, no Centro de Vitória. O movimento começou no início desta manhã e, pouco depois das 18h30, parte dos coletivos voltou a circular.
A porcentagem foi uma exigência da Justiça do Trabalho, mediante multa em caso de descumprimento.
“A nossa orientação para a categoria é de que os ônibus voltem a rodar”, falou o presidente do Sindirodoviários José Carlos Sales Cardoso.
Assembleia dos rodoviários para decidir sobre a paralisação, em Vitória — Foto: Gabriela Ribetti/TV Gazeta
Os terminais amanheceram vazios nesta segunda e apenas algumas linhas foram vistas nas ruas. Mais de 400 mil pessoas são transportadas diariamente no Sistema Transcol.
Os rodoviários fizeram a paralisação em protesto contra os ônibus que começariam a circular nesta segunda-feira sem cobrador. A categoria afirma que podem haver demissões; o governo nega.
A Justiça do Trabalho determinou que seja mantida a circulação de 75% da frota de ônibus, com multa diária de R$ 100 mil em caso de descumprimento.
No início da noite, uma outra decisão da Justiça ampliou para R$ 200 mil o valor da multa caso os rodoviários não cumpram com o acordado. A decisão é da juíza Sayonara Bittencourt e atende a um pedido do Governo do Estado. Ela também ordenou que não haja bloqueio no trânsito, nem impedimento para ônibus saírem das garagens.
De acordo com o desembargador Gerson Fernando da Sylveira Novais, “na Grande Vitória a população só conta com o transporte de passageiros através de ônibus. Não é razoável que toda a frota de ônibus permaneça parada impedindo a livre locomoção da população, de modo a impedir o acesso das pessoas aos hospitais, aos Postos de Saúde, às escolas. Impedindo que outros trabalhadores, vários também empregados em atividades essenciais, não possam exercer suas atividades.”
O desembargador ainda destacou o fato de a Grande Vitória não possuir outro tipo de transporte de passageiros além dos ônibus: “ficando, portanto, a população sem nenhuma opção a não ser a de caminhar longamente, sob o sol ou chuva, nos casos de greve no transporte.”
Os terminais de ônibus amanheceram vazios. Eles tinham poucos passageiros, já que muitos deles não conseguiram chegar aos terminais.
No Terminal de Jardim América, em Cariacica, por exemplo, poucos ônibus foram vistos saindo do local, quase sem passageiros.
“Eu cheguei aqui umas 4h40 de carona com meu esposo, mas deparei com essa situação. Eu estou esperando dar 7h30 para ligar para o meu trabalho para virem me buscar”, disse uma passageira.
A Companhia Estadual de Transportes Coletivos de Passageiros do Estado do Espírito Santo (Ceturb/ES) informou que os terminais não estão fechados, mas que o sindicato não está cumprindo o mínimo exigido pela Justiça.
“Os ônibus não estão chegando para transportar os passageiros e na bilheteria, que é operada por funcionários das empresas, não tem ninguém. Todas as linhas estão afetadas”, disse o órgão em nota.
Garagem da Viação Satélite, em Cariacica — Foto: Diony Silva/ TV Gazeta
O secretário de Transportes e Obras Públicas (Setop-ES), Fábio Damasceno, disse que 50 ônibus circularam pelas ruas na manhã desta segunda. A frota do Sistema Transcol é de 1.500 veículos.
“Nós levantamos 10 aspectos de melhoria para o cobrador, para requalificar, para fazer a reformulação dessa atividade”, falou.
Segundo ele, os empregos estarão mantidos. “Nós garantimos 100% dos empregos. Ninguém será demitido em função da implantação dos ônibus com ar condicionado. Nós vamos assinar o documento que for para comprovar que não vamos demitir ninguém. O que vamos fazer é requalificar esses profissionais para outras atividades”, completou.
Rodoviários cruzaram os braços em protesto na Grande Vitória — Foto: Roberto Pratti/ TV Gazeta
Novo ônibus com pneu vazio
Um dos coletivos com ar condicionado, que sairia nesta segunda para as ruas, teve o pneu esvaziado pelos rodoviários nesta manhã. Segundo um motorista, os colegas esvaziaram o pneu do coletivo e ainda tomaram a chave dele.
Ônibus teve o pneu esvaziado durante paralisação dos rodoviários na Grande Vitória — Foto: Reprodução/ TV Gazeta
Passageiros também relatam a dificuldade encontrar ônibus municipais de Vitória e Vila Velha. Por nota, a prefeitura de Vila Velha informou que os coletivos não estão circulando por causa do protesto da categoria.
A Prefeitura de Vitória informou que circularam, durante toda a manhã, 24 ônibus do total de 207 da frota municipal, das linhas 331, 211, 071, 072, 103, 121 e 111. As empresas estão em negociação para que mais coletivos circulem ainda nesta segunda-feira.
As aulas nas escolas públicas estaduais da Grande Vitória foram mantidas. A Secretaria de Educação (Sedu) disse que se houver necessidade será feita reposição do calendário letivo.
Nas escolas municipais, as aulas também estão mantidas. Em Cariacica, funciona parcialmente. À tarde, se os ônibus não continuarem a circular, o procedimento será o mesmo.
Em Vila Velha, as aulas acontecem normalmente. Segundo a prefeitura, os alunos da rede são matriculados em unidades próximas às suas casas, mas há profissionais que trabalham nas unidades e moram longe. Se houver algum prejuízo, as aulas serão repostas.
Em Vitória e Serra, todas as escolas também estão abertas.
Indústria, comércio e serviços
De acordo com a Federação das Indústrias do Estado do Espírito Santo (Findes), a paralisação quase total da frota de ônibus na Grande Vitória “afeta profundamente a produção da indústria, cujo faturamento por dia útil gira em torno de R$ 287 milhões. Considerando Indústria, Comércio, Serviços e Agro, o valor chega a R$422 milhões por dia útil.”
Nos principais centros comerciais da região Metropolitana de Vitória, muitos funcionários não conseguiram chegar ao trabalho e o movimento nas lojas caiu.
“De 15 funcionários, apenas três vieram trabalhar hoje. O movimento aqui foi apenas 20% do comum, eu vou até fechar a loja mais cedo”, contou o comerciante Antonio Carlos Uneda, que tem uma loja no Centro de Vitória.
O comerciante Antonio Carlos Uneda contou que a paralisação dos ônibus gerou prejuízos ao comércio dele — Foto: João Henrique Castro/Residência da Rede Gazeta