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10 Considerações sobre Anne de Green Gables, de L. M. Montgomery ou sobre encontrar almas irmãs

Fonte http://www.listasliterarias.com/2019/09/10-consideracoes-sobre-anne-de-green.html

O Blog Listas Literárias leu Anne de Green Gables, de L. M. Montgomery publicado pela editora Autêntica; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:
1 – Publicado pela primeira vez em 1905, ainda que não deixe de ser um retrato de sua época, e assim, com alguma e outra questão datada pelo tempo, Ann de Green Gables, no geral mostra-se bastante pertinente ao nosso presente, especialmente porque que com alguma dose de utopia e esperança, a narrativa tem por princípio observar o lado positivo das coisas, algo presente e reverberado por sua falante, extrovertida e dinâmica protagonista Anne Shirley;
2 – Ambientado em uma pequena ilha canadense em começo de século XX, o romance conta-nos a história de Anne, orfã que por engano acaba sendo adotada por um casal de irmãos solteirões, de quem ela mudará a vida e a rotina; não apenas deles, toda comunidade de Avonlea será modificada pela autenticidade e pelas peculiaridades originais da jovem órfã. Falante por além da conta, mas embora as diferentes travessuras que protagonize, sempre marcada por questões éticas e morais muito fortes, sua jornada, como o são as leituras da mocinha, não apenas a conduzirá a um bom desfecho, mas fortemente marcada pela moral presente no romance, notadamente, a gratidão;
3 – Não se tomando aqui o sentido muitas vezes negativo que a palavra moral por vezes levante, afinal, pensamentos autoritários via de regra usam da moral [a falsa moral] para justificar suas censuras, é justamente em seus valores éticos e morais que o livro mostra-se ainda relevante para leitura em nossos dias. Marcada por uma educação religiosa de sua época, e também por suas leituras moralizantes, a jovem Anne trará exemplos de atitudes nobres, tais como amizade, seu senso de justiça, a própria gratidão aqui dita, e o amor, não o amor das paixões, mas os amores dos diferentes laços que ela desenvolve, amizade, familiares… em suma, uma narrativa conciliatória cuja mensagem em grande parte seja o respeito;
4 – E olha que isso não significa dizer que a narrativa seja plenamente ingênua, pelo contrário, pelas bordas e pelo desfile dos personagens e dos costumes de sua época, aqui e acolá você encontrará pitadas críticas, embora aparentemente sutis, mas que sobressaltam ao olhar mais acurado;
5 – Lógico que por ter a época fortemente marcada, os leitores verão na narrativa a força da religião e a aparente indistinção, por exemplo, entre educação e religião, algo comum à sua época. Nesses aspectos poderia pressupor-se certa datação, contudo, ainda que não o foco da narrativa, não passam despercebidas as aberturas a ideias bastante progressistas, especialmente para sua época de publicação;
6 – Por exemplo, haverá momentos que a jovem Anne quando já atingida a juventude levantará questões que ainda hoje são demandas do feminismo. Isso se dá a partir de certa latência entre divisão política entre liberais e conservadores e quando em não raros momentos a jovem questionará os espaços da mulher na sociedade. Além disso, um dos detalhes mais revolucionários na narrativa mostre-se através da chegada da professora Stacy à comunidade, que a despeito dos olhares reticentes e conservadores do lugar, muda significativamente a pedagogia local dando voz aos estudantes, antecipando em muito, quem sabe um John Keating;
7 – Todavia, a despeito do que já foi falado, não significa dizer que a narrativa utópica e carregada de esperança em algumas propostas moralizantes se construa por meio de olhares ingênuos ou idealizados de comportamento. Pelo contrário, Anne Shirley na verdade vai formando seu caráter também pelo aprendizado com seus erros e extrapolações. E aí outra virtude, a capacidade de aprender com suas próprias falhas, mesmo as mais persistentes como a excessiva competitividade, especialmente a com Gilbert, ainda que…
8 – E se até aqui tratamos, digamos, de elementos mais distantes da camada superficial de leitura, por outro lado importa dizer em em tal superfície, a leitura mostra-se ainda muito divertida, pois as situações e acontecimentos com Anne certamente vão sacar alguns sorrisos, e aí talvez o “perigo” no bom sentido da leitura, já que a obra diverte ao mesmo tempo que é bastante exitosa em passar as suas diferentes mensagens;
9 – Além disso, é interessante observar-se ainda o estilo e a estética da narração, que guardará a seu modo não apenas nuances de metaliteratura em que ao falar de literatura indica sua própria filiação, mas o próprio estilo em que a voz da narradora e da protagonista por vezes fundem-se numa única voz;
10 – Enfim, às vezes precisamos munirmo-nos de esperança, e creio que esta seja uma das mensagens que saltam do livro. Há claro aqueles pequenos detalhes que podemos discutir, mas isso só numa lógica de cobrar da obra os valores de hoje, o que não é o caso. Nesse aspecto, cremos que o livro é inclusive bastante a frente de seu tempo, pois para além da emoção e da diversão que traz e para além do retrato de época e costumes, a elementos interessantes que fazem de Anne Shirley uma mocinha um tanto revolucionária – e leal.

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