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Protegendo os últimos espaços de vida selvagem do planeta

Fonte https://nacoesunidas.org/protegendo-os-ultimos-espacos-de-vida-selvagem-do-planeta/

Adjany Costa trabalha com comunidades do Delta do Okavango em prol da conservação da vida selvagem e dos ecossistemas locais. Foto: ONU Meio Ambiente.

Adjany Costa trabalha com comunidades do Delta do Okavango em prol da conservação da vida selvagem e dos ecossistemas locais. Foto: ONU Meio Ambiente.

Quando a etno-conservacionista Adjany Costa, de 29 anos, era mais jovem, a praia era o único lugar natural seguro para ir. A guerra civil, que afligiu a Angola por três décadas (1975-2002), tornou a exploração de novos espaços impossível.

“Não podíamos ir muito longe por causa dos combates e das minas terrestres”, lembra Adjany. “Mas todos os finais de semana, meu pai me levava à praia, que se tornou meu lugar preferido. Isso despertou em mim um grande respeito pela natureza”.

Desde então, muita coisa mudou. Após o fim da guerra, e à medida que as comunidades regressaram a seus lares, Costa se sentiu na obrigação de explorar a selva.

Surgiu então a oportunidade de se unir à exploração sem precedentes da revista norte-americana National Geographic no Delta do Okavango, em Angola. Uma jornada da qual ela nunca retornaria totalmente.

O que encontrou na remota comunidade de Luchaze, que vive nos planaltos angolanos e nas florestas de Miombo, nas cabeceiras de um dos maiores sistemas fluviais da África (Okavango), foi um mundo curando suas feridas.

“O rio Cuito, onde vive a comunidade Luchaze, é fundamental para a manutenção dos níveis de água do Okavango em três países”, explica. “Estudando biologia, o que mais me impressionou foi a forma como toda a natureza está interligada.”

Protegendo a vida selvagem

O Delta do Okavango é um dos maiores sistemas fluviais da África, compartilhado por Angola, Namíbia e Botswana. Foto: Freek Van Ootegem.

O Okavango é um dos maiores sistemas fluviais da África, compartilhado por Angola, Namíbia e Botswana. Foto: Freek Van Ootegem.

A Bacia do Rio Okavango é um ecossistema vital e parte da maior zona úmida de água doce do sul da África. Mais de um milhão de pessoas dependem da bacia compartilhada por Angola, Namíbia e Botsuana.

Seu delta, no Botsuana, abriga uma abundante e icônica vida selvagem, incluindo uma das maiores populações de elefantes do mundo. O rio Cuito é um afluente do Delta do Okavango e manter os níveis de água é fundamental para a manutenção de todo o ecossistema.

“Dependemos dos ecossistemas para sobreviver e comunidades rurais vulneráveis mais ainda. Devemos estar conscientes de como nosso modo de vida impacta o meio ambiente e como dependemos dele para sobreviver”, apontou Costa. Segundo ela, trabalhar com os povos e comunidades tradicionais para a conservação é essencial para garantir nosso futuro comum.

“Percebi, trabalhando com a comunidade, que se eles ajudarem a proteger as áreas florestais e os rios, e nutrirem sua vida selvagem, isso é fundamental para a manutenção de todo o ecossistema”, contou.

Os efeitos da guerra civil angolana, no entanto, ainda são muito presentes, dificultando muitas vezes o trabalho com as comunidades locais. “Me chamou a atenção que, por causa da guerra, essas comunidades perderam a conexão com seu entorno”.

“Algumas crianças nunca viram um elefante, um grande ícone da região. A comunidade só está começando a se sentir em casa novamente agora e as gerações mais jovens estão explorando a paisagem e entendendo como ela funciona e se encaixa nesse momento”, refletiu.

Necessidades no presente, desafios no futuro

“Se você perguntar a qualquer pessoa da comunidade o que ela quer, escutará: sal, sabão, óleo, uma enfermeira e uma professora. Mas, com o tempo, percebi que o que eles realmente querem é um futuro”, afirmou Costa.

Povoados como o de Luchaze não tiveram acesso à saúde e ao saneamento. Segundo Costa, elas foram retiradas de suas terras e levadas a acreditar que seus valores, remédios e culturas eram inúteis. “É difícil tomar decisões sobre o futuro, quando você está focado em fazer com que o dinheiro chegue no presente”, pontuou.

E é isso que Adjany Costa quer mudar. “Proteger a paisagem e trabalhar com as comunidades para um futuro a longo prazo é meu objetivo”, explica. “Estou trabalhando com elas para devolver a terra de onde foram retiradas.”

Livros gerando consciência ambiental

Comunicação visual é uma ferramenta poderosa usada por Costa para envolver a população com a proteção ambiental. Foto: ONU Meio Ambiente.

Comunicação visual é uma ferramenta poderosa usada por Costa para envolver a população com a proteção ambiental. Foto: ONU Meio Ambiente.

Parte deste trabalho é feito por meio de uma narrativa visual. Costa está trabalhando em uma série de gráficos e livros para documentar a herança da comunidade e educar os membros mais novos.

As “Histórias Mitológicas do Valor de Conservação” é um projeto de livro desenvolvido junto aos povos mais antigos da comunidade, para documentar narrativas orais sobre rios míticos e guardiões florestais, relacionando a poderosas mensagens ambientais.

Será feita uma adaptação para que as pessoas mais jovens sejam ensinadas sobre diferentes histórias dos rios e florestas, para assim ajudá-las a se reconectarem com seu ambiente.

“Uma foto do meu livro anterior mostra elefantes fugindo das florestas durante o conflito. As comunidades podem se relacionar com isso e construir uma conexão mais próxima com a paisagem”, relatou. “Mas, na verdade, deve ser o contrário: as gerações mais jovens devem contar suas próprias histórias”, concluiu.

O trabalho de Adjany Costa envolve trabalhar com a comunidade por um período e estabelecer confiança. Dessa forma, pode capacitá-los a retomar o controle sobre seus recursos. “Só quando eles acreditarem que a terra é deles, eles realmente irão protegê-la”, afirmou.

Um relatório recente da Plataforma Intergovernamental de Política Científica sobre Serviços de Biodiversidade e Ecossistemas adverte que mais de um milhão de espécies está em risco, o que ameaça os últimos espaços selvagens e comunidades de povos indígenas que dependam delas. Em média, 200 espécies são extintas todos os dias.

Maxwell Gomera, Diretor de Biodiversidade e Ecossistemas do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, disse: “O trabalho de Adjany mostra que indivíduos podem sim fazer a diferença”.

Segundo Gomera, vivemos em uma época que precisamos de mais ação para evitar crises da natureza e do clima. “As escolhas são difíceis, mas podemos enfrentar o desafio agindo com um interesse em comum para ajudar a natureza e as pessoas a prosperarem juntas”, apontou.

Sobre o Prêmio Jovens Campões da Terra

O Prêmio Jovens Campeões da Terra, promovido pela Covestro, é a principal iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente para envolver os jovens na resposta aos desafios ambientais mais urgentes do mundo.

Adjany Costa é uma das sete vencedoras de 2019, premiadas durante a Conferência do Clima da ONU, ocorrida em setembro de 2019 na sede das Nações Unidas em Nova Iorque.

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