Entre 20 e 23 de setembro de 2019 ocorreu o segundo Acampamento Regional ‘Juventudes Já’, uma iniciativa do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e demais parceiros para impulsionar a participação e a liderança juvenil na América Latina e no Caribe.
Durante os quatro dias, 50 jovens ativistas de diferentes países da região se reuniram no México para compartilhar experiências, construir alianças e fortalecer suas capacidades de incidência política, participação e reconhecimento.
Um dos objetivos do Acampamento ‘Juventudes Já’ é proporcionar um espaço para que os jovens influenciem e se envolvam com a implementação da agenda da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento (CIPD), do Consenso de Montevidéu sobre População e Desenvolvimento na América Latina e o Caribe, e da Agenda 2030 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
O acampamento também é um aquecimento rumo à Cúpula de Nairóbi, evento que ocorrerá entre 12 e 14 de novembro de 2019 em Nairóbi, no Quênia, para celebrar os 25 anos da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento (CIPD).
Reunindo no México um grupo diverso de adolescentes e jovens entre 15 e 25 anos, o acampamento promovido pelo UNFPA contou com diversas atividades, debates e rodas de conversa realizados com o intuito de ajudar a formar uma juventude que logo irá gerar impactos em seus espaços de ação.
Vozes para a mudança
Conheça abaixo o perfil de alguns desses jovens que já estão produzindo mudanças em seus contextos.
Laura Dihuihnidili Huertas, de 24 anos, vem da comunidade de Niadub, no Panamá. Como líder juvenil indígena e estudante de Direito e Ciências Políticas, assegurou: “meu compromisso é ser a voz de minhas irmãs e irmãos que estão nas ilhas e sofrem discriminação pela barreira do idioma. Estou aqui para representá-los nos espaços de luta de direitos humanos. Quero que trabalhemos coletivamente para atingir uma verdadeira inclusão, e que possam ter oportunidades de educação como eu tive”.
Laura também é ativista pelos direitos da mulher indígena. Ela reconhece que o que a impulsionou a se mobilizar foram as diferentes violências de gênero que notou em sua comunidade.
“Dois momentos foram os que me marcaram mais fortemente: o primeiro foi quando minha melhor amiga me chamou, aos 15 anos, dizendo que não queria se casar com um homem que lhe haviam imposto (não pude fazer nada a respeito porque também era uma menina); e o outro foi quando minha bisavó me confessou que foi violada aos 10 anos e que, enquanto chorava, sua mãe lhe dizia que ‘já era hora de ser mulher’. Não podemos permitir que isso continue ocorrendo, nós mulheres não podemos ficar caladas”, alertou.
José Fernando Salcedo, de 22 anos, cientista político colombiano e fervoroso defensor dos direitos sexuais e reprodutivos e da diversidade sexual, indicou que sua proposta tem a ver com gerar diálogos para que as agendas sejam visibilizadas.
“Neste momento, a América Latina está atravessando uma onda conservadora na qual jovens, pessoas LGBTI, mulheres e comunidades étnicas estão sendo deixadas para trás”, avaliou.
Segundo Salcedo, “O diálogo é a base de todo processo de construção social e temos que potencializá-lo para firmar alianças. A Agenda 2030, o Consenso de Montevidéu, e a Agenda de Ação do Cairo não devem ser simplesmente um discurso político. Eles têm que se converter em práticas cotidianas, como em entender que ‘não é não’; que o gênero vai mais além do binarismo que nos foi imposto; ou mesmo dizer a uma pessoa que ela pode ter acesso ao planejamento familiar, que tem possibilidade de decidir sobre seu corpo”.
Sofía Savoy, de 20 anos, é argentina e parte dos movimentos Estamos Todos em Ação e Movimento Violeta de Mulheres com Deficiência Visual.
Ela conta o que a motivou a se tornar uma ativista política. “O que me impulsionou foi a falta de informação sobre como tratar as pessoas com deficiência e também quando me dei conta de que um monte de direitos eram violados e ninguém fazia nada”, desabafou.
“Meu compromisso é insistir na acessibilidade e na visibilidade. Todos gostamos de ser respeitados, no entanto, seguimos invisibilizando o deficiente e naturalizando as violações. Uma forma de tentar mudar, para mim, foi começar com o ativismo”, contou Savoy.
Miriam Franyé Morales Suárez é porto-riquenha e educadora comunitária. Ela também é pesquisadora social e ativista pelos direitos das mulheres e das comunidades afrodescendente e LGBTI.
“Sou diferente, todos nós somos. O problema está quando essa diferença se transforma em algo negativo para pessoas como eu, mulher, afrodescendente”, relatou.
Suárez está dedicada ao trabalho feminista antirracista nas comunidades de base em seu país, e neste sentido foi clara: “minha proposta é conseguir, a longo prazo, influenciar nas políticas públicas, e que todas as iniciativas que temos construído coletivamente alcancem as estruturas de poder e possam mudar as condições de vida e as oportunidades de acesso”.
Ela conclui: “A história nos ensina que sempre temos que persistir. Meu compromisso pessoal é de não ficar calada quando vejo injustiças, muito mais por ser mulher, negra e pobre”.
Principais temáticas do Acampamento ‘Juventude Já’
Os principais desafios discutidos coletivamente no acampamento ‘Juventude Já’ foram: diversidade; feminismos; inclusão; acesso universal à saúde sexual e à educação sexual integral; a interseccionalidade; e a igualdade de gênero.
Também estava na pauta de atividades a revisão das agendas locais, regionais e globais dos principais avanços e retrocessos desde o compromisso firmado por 179 países em 1994, na Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento (CIPD) no Cairo.
Ainda que falte muito para alcançar o proposto no Cairo, os avanços são relevantes: nos últimos anos, em matéria de legislação, alguns países alcançaram evoluções em termos de proteção contra a violência infiltrada às mulheres e de assédio sexual. Alguns outros avanços foram a possibilidade do matrimônio igualitário e da licença paternidade.
Em alguns países, também se alcançou a tipificação do crime de feminicídio; o plano de prevenção da gravidez na adolescência; e a conscientização e a exigência da educação sexual em espaços de aprendizagem.
O Acampamento – que conta com o apoio da Plan Internacional; da Federação Internacional de Planejamento Familiar da Região do Hemisfério Ocidental; da Aliança Latinoamericana e Caribenha de Juventudes; da Rede Latinoamericana e Caribenha de Juventudes pelos Direitos Sexuais; e das Vizinhas Feministas (Vecinas Feministas) – está preparando também as jovens e os jovens para participar e apresentar suas propostas inovadoras na reunião regional sobre a CIPD 25.
A reunião convocará representantes de governos, sociedade civil e aliados para, nos dias 24, 25 e 26 de setembro, em Puebla, no México, dar cara à esperada Cúpula mundial em Nairóbi, em novembro.