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Dois ossos recém-descobertos na Nova Zelândia dão pistas de um “loro” pré-histórico de proporções inesperadas.
A Austrália pode ser conhecida por seus animais esquisitos, mas a vizinha Nova Zelândia não fica atrás. Lar do kiwi — o pássaro, não a fruta, que também é exótica —, as ilhas neozelandesas abrigam o maior papagaio do mundo moderno. Chamado pelos nativos de kakapo (Strigops habroptila), esse “loro” selvagem é herbívoro, tem cerca de meio metro de comprimento e pesa de 2 a 3 quilos. Único membro dos psitacídeos incapaz de voar, também é o único que tem hábitos noturnos — daí seu nome popular que significa “papagaio-da-noite” em maori. Ocupa, portanto, um nicho semelhante ao das corujas naquele ambiente.
Seria possível existir um papagaio ainda maior? Estudo recém-publicado na Biology Letters traz evidências de um possível ancestral pré-histórico do kakapo com o dobro do seu tamanho. Dois fragmentos de tíbias dessas aves foram descobertos perto de St. Bathans, no centro-sul da ilha meridional da Nova Zelândia — uma zona rica em fósseis da avifauna local. A datação indica uma idade de cerca de 19 milhões de anos.
Embora os ossos estejam incompletos, basta uma comparação visual com seus equivalentes modernos para dar uma noção do tamanho dos pássaros aos quais pertenceram, que teriam cerca de um metro e pesariam uns 7 quilos — mais ou menos tão grande quanto um peru. De um gigantismo inesperado, o papagaio pré-histórico foi batizado de Heracles inexpectatus. Para o professor Mike Archer, da Universidade de Nova Gales do Sul (Austrália), o Heracles tinha um bico tão grande e forte que seria capaz de comer qualquer coisa que bem entendesse, talvez até outros papagaios menores.
Se um papagaio carnívoro parece absurdo, não é impossível. O kea ou papagaio-da-nova-zelândia (Nestor notabilis), quase tão grande quanto o kakapo, costuma se alimentar de larvas, insetos e até carcaças de ovelhas (ovinos doentes ou feridos também podem ser atacados, para desgosto dos fazendeiros). Sendo assim, não é difícil imaginar que, além dos coquinhos abundantes nas florestas subtropicais onde vivia, o Heracles também filasse pombos, outras aves pequenas ou filhotes de outras espécies.
Ainda não se sabe se (ou quando) o Heracles acabou extinto ou se ele deu origem às linhagens que resultaram nos kakapos e keas modernos. Novas escavações na área podem encontrar um esqueleto completo (ou quase), o que poderia esclarecer essa e outras questões desse pássaro inesperado.
Referência
Trevor H. Worthy et al. Evidence for a giant parrot from the Early Miocene of New Zealand [Evidência de um papagaio gigante nos primórdios do Mioceno da Nova Zelândia]. Biology Letters, 15 (8), 2019; doi: 10.1098/rsbl.2019.0467