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O brutal feminicídio de Camila Lourenço, que só foi a julgamento mais de um ano depois

Fonte https://www.huffpostbrasil.com/entry/feminicidio-camila-lourenco_br_5d94e4a3e4b02911e114e41a

Camila Lourenço, de 32 anos, trabalhava como gerente de uma esmalteria em Araraquara, cidade do interior paulista.

Camila Lourenço, de 32 anos, foi assassinada em uma casa no bairro Jardim Higienópolis, em Araraquara (SP), em abril de 2018. Ela levou 10 facadas. Mais de um ano depois, Antônio Marcos Bueno, agressor e companheiro dela, foi condenado a 30 anos de prisão. Informação foi divulgada nesta quarta-feira (2).

O julgamento foi realizado no Fórum de Araraquara, nesta terça-feira (1º), e durou cerca de nove horas. O júri decidiu que Bueno, que é cantor sertanejo, irá responder em regime fechado por homicídio doloso qualificado por motivo torpe, meio cruel e feminicídio. A defesa ainda pode apresentar recurso.

Durante julgamento, a defesa alegou que Camila ficou violenta, e que Bueno teria agido em legítima defesa. Quando foi preso, em abril de 2018, o agressor confessou o crime e disse estar arrependido. A motivação teria sido o término do relacionamento de cinco meses. Eles estavam separados há duas semanas.

Após o resultado do júri, pela condenação, a irmã de Camila, Valéria Diogenes Lourenço, falou com a imprensa na saída do Fórum, segundo o G1.

“Hoje vamos dormir sabendo que a alma dela está descansando e sabendo que a justiça foi feita”, disse.

O feminicídio contra Camila Lourenço

Segundo a investigação, a jovem, que era gerente de uma esmalteria na cidade, terminou o relacionamento com Bueno, após episódios de ciúme.

No dia em que foi assassinada, ela foi até a casa da mãe do agressor, de 35 anos, local em que ele morava à época ― o casal estava separado há duas semanas, após morarem juntos por dois meses. Na ocasião, após uma discussão, ele desferiu 10 facadas contra ela, que morreu no local. Ao tentar contê-lo e ajudar Camila, a mãe e a irmã do agressor também ficaram feridas.

Meirelene de Castro Rodrigues, delegada a Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) da cidade, afirmou ao G1, na época, que a jovem nunca tinha registrado denúncia de agressão ou ameaça contra o companheiro. Mas encontrou registros de denúncia por parte de uma ex-namorada do sertanejo.

Após o homicídio de Camila, o agressor fugiu. O inquérito aponta que uma denúncia anônima com a localização do cantor auxiliou na prisão. Ele confessou o crime e disse estar arrependido, segundo reportagem da EPTV, emissora afiliada da TV Globo.

“Ela descobriu que ele tinha muito ciúmes e nós também descobrimos. Ela resolveu dar um tempo”, disse a mãe de Camila, Isabel Cristina Lourenço, ao mesmo jornal local. “Ela foi brutalmente assassinada. Minha filha não teve chance nenhuma defesa, foi assassinada dentro do quarto e deixou um vazio.”

 A violência que acontece dentro de casa

Feminicídio é o termo usado para denominar assassinatos de mulheres cometidos em razão do seu gênero. Ou seja, quando a vítima é morta por ser mulher. No Brasil, a Lei do Feminicídio, de 2015, estabelece que, quando o homicídio é cometido contra uma mulher, a pena é aumentada.

O 13º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em 2019, aponta alta dos feminicídios. Segundo a pesquisa, em 2018, 1.206 mulheres foram vítimas de feminicídio no Brasil, uma alta de 4% em relação ao ano anterior. De cada dez mulheres mortas, seis são negras.

A faixa etária das vítimas é mais diluída: 28,2% têm entre 20 e 29 anos, 29,8% entre 30 e 39 anos. E 18,5% entre 40 e 49 anos. Nove em cada dez assassinos de mulheres são companheiros ou ex-companheiros.

O apoio da Lei Maria da Penha

Entre 2012 e 2017, aumentou em 28,7% o número de assassinatos de mulheres na própria residência por arma de fogo. 

Em 7 de agosto de 2006, a Lei Maria da Penha estabeleceu que é dever do Estado criar mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra as mulheres e que todas elas, “independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião”, devem gozar dos direitos fundamentais, “oportunidades e facilidades para viver sem violência”. 

Apesar dos treze anos da existência de uma legislação como esta no Brasil, é crescente o número de mulheres assassinadas no País. Segundo o Atlas da Violência de 2019, 4.963 brasileiras foram mortas em 2017, considerado o maior registro em dez anos.

A taxa de assassinato de mulheres negras cresceu quase 30%, enquanto a de mulheres não negras subiu 4,5%. Entre 2012 e 2017, aumentou em 28,7% o número de assassinatos de mulheres na própria residência por arma de fogo. 

A Defensoria Pública do Estado de São Paulo, por meio do Núcleo de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher (Nudem), disponibiliza cartilhas com orientações de atendimentos à mulher vítima de violência, além de endereços de delegacias especializadas.

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