Fonte https://www.huffpostbrasil.com/entry/planejamento-de-deslocamento_br_5e00bc71e4b05b08bab85876
“Uma maneira nova de entender transporte.” É assim que o gerente de pesquisa e políticas públicas da 99, Miguel Jacob, define o atual momento que vivemos no que se refere a se deslocar pelas cidades. “[O transporte] Deixa de ter a ver com propriedade e passa a ser entendido como um serviço”, diz ele, em entrevista ao HuffPost Brasil.
Ter um veículo próprio exige uma série de gastos que podem não caber no bolso de muita gente. Impostos, seguro, estacionamento, gasolina… É muita conta para pagar. Além disso, o interesse por automóveis vem caindo no Brasil. Segundo pesquisa da 99 em parceria com a Ipsos, 11% dos brasileiros deixaram de ter carro próprio nos últimos 5 anos.
“Quando a pessoa não tem um carro na garagem, ela passa a usar muito mais outros modos de transporte: bicicleta, a pé, transporte público e tudo o que estiver à disposição e se encaixe em suas necessidades”, explica Jacob.
A 99 descobriu que boa parte das corridas que seus motoristas parceiros realizam complementa as viagens de transporte público feitas pelos usuários. Entre os usuários de app, em São Paulo, 36% das viagens são feitas com uso de modos ativos e coletivos (transporte público ou bike).
Entre os motoristas de carro, essa proporção cai para 10% das viagens. Entre motociclistas, só 8% das viagens são feitas também com transporte público ou ativo.
Nesse cenário, o planejamento de deslocamento é inescapável. Estamos falando da escolha do modo a ser usado a partir de fatores, como destino, ponto de origem e até mesmo classe social e gênero. O uso do app se torna parte do trajeto — geralmente a primeira e a última milhas, que são os trechos inicial e final do percurso de quem utiliza transporte público.
Dados da 99 indicam que 24% das corridas no Rio de Janeiro têm como origem ou destino estações de metrô, trem, BRT e balsa e terminais de ônibus. Em São Paulo, são 13% das viagens que começam ou terminam em estações de trem, metrô ou terminais de ônibus.
Conversamos com o gerente da 99, Miguel Jacob, sobre o atual cenário de deslocamentos e planejamento. Ele utiliza vários dados e exemplos da realidade cotidiana para nos explicar como a maneira de nos deslocarmos está mudando — e qual é o papel de apps de mobilidade nisso.
HuffPost: Como o uso constante do app derruba gastos correntes e permanentes de quem possui um carro?
Miguel Jacob: Na verdade, o uso do aplicativo vem para substituir a posse do carro. É uma nova maneira de entender o transporte, que deixa de ter a ver com propriedade e passa a ser entendido como um serviço. É por isso que muita gente já fez as contas e chegou à conclusão de que vale a pena deixar o carro próprio de lado.
A equipe de Pesquisa e Políticas Públicas da 99 fez um cálculo para entender quando vale a pena substituir o carro próprio pelo app. O levantamento considera o custo médio de possuir um carro popular em diferentes capitais do País e as despesas variáveis, que dependem da quantidade de quilômetros rodados por dia, o preço do seguro e do estacionamento, por exemplo.
Em São Paulo, para quem percorre até 34,25 km diários vale mais a pena usar o aplicativo. A mesma lógica vale para quem está no Rio de Janeiro (47,18 km), Belo Horizonte (37,59 km), Recife (40,31 km) e Porto Alegre (39,89 km).
Hoje em dia é possível dizer que trocar o carro próprio pelo aplicativo de mobilidade urbana é uma decisão eficaz do ponto de vista de custo-benefício? Qual a economia esperada de uma troca como essa para um brasileiro de classe média?
Ter um veículo próprio pode significar que a pessoa já estará gastando pelo menos R$ 8.397,62 por ano, segundo nossos dados, sem contar os gastos com combustível. O cálculo que fizemos com base na distância percorrida pode ajudar na decisão de trocar o carro próprio pelo aplicativo.
A 99 encomendou uma pesquisa à Ipsos para saber como o brasileiro entende a mobilidade. Dos entrevistados que não possuem carro, 11% deixaram de ter nos últimos 5 anos — o que nos leva a acreditar que vivemos um período de transição muito importante. Entre as principais razões que levam uma pessoa a deixar de priorizar o automóvel como bem, estão os gastos com o veículo. Para 5%, o motivo é a mudança no estilo de vida.
Quando a pessoa não tem um carro na garagem, ela passa a usar muito mais outros modos de transporte: bicicleta, a pé, transporte público e tudo o que estiver à disposição e se encaixe em suas necessidades.
Há alguma correlação entre a decisão de ter um carro e/ou ser apenas usuário do app e as distâncias percorridas da casa para o trabalho e vice-versa?
O uso de aplicativo nas grandes cidades em substituição ao carro próprio, para trajetos inteiros, é vantajoso em médias distâncias. Em metrópoles como Rio de Janeiro e São Paulo, por exemplo, uma outra maneira de se deslocar pela cidade é integrando diferentes modos.
Em pesquisa recente da Fipe-USP, descobrimos que as corridas da 99 são complementares ao transporte público. Em São Paulo, 13% das viagens começam ou terminam em uma estação de metrô ou terminal de ônibus. E de acordo com dados da pesquisa Origem e Destino do Metrô de São Paulo, com dados de 2017 e divulgada neste ano, podemos dizer que o usuário do aplicativo é mais multimodal — usa mais outros modos de transporte — do que os donos de carros. Os resultados indicam que usuários de aplicativo realizam 36% de suas viagens utilizando modos ativos e coletivos. Esse número fica em torno de 10% para motoristas de carro e, 8%, de moto.
Para quem não quer abandonar o carro, quais as circunstâncias em que o uso do app é efetivo — e há uma economia por conta disso?
A pesquisa que fizemos com a Ipsos revelou que entre os proprietários de carros, 30% abririam mão do automóvel.
Os dados obtidos estão de acordo com um comportamento que já vem sendo observado na sociedade, em que o carro próprio deixa de ser um item dos sonhos, principalmente entre os mais jovens. Dados do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) apontam uma queda de 30% na emissão de carteiras de habilitação (CNH) nos últimos 3 anos.
Para a 99, compreender as diferentes realidades e maneiras de se deslocar pela cidade é também ajudar a criar ambientes mais democráticos. Por isso, estimulamos o planejamento financeiro com transporte, para que as pessoas possam aproveitar melhor as cidades, economizando tempo e dinheiro. Somos favoráveis à integração modal e à complementaridade ao sistema público de transporte.
De que modo é possível conciliar o uso do transporte público e do transporte com apps de mobilidade urbana, como a 99?
Os aplicativos de transporte são uma ferramenta poderosa que complementa o sistema público de transporte. Eles contribuem especialmente no que chamamos de primeira e última milha – que são os trechos iniciais ou finais que levam a pessoa a um terminal de ônibus ou estações de trem e metrô.
A tendência de multimodalidade é comprovada pela mais recente edição da OD 2017. Nela, fica evidente o perfil mais multimodal do usuário de aplicativo: 6% do total das viagens em que os passageiros utilizam aplicativo têm início ou fim no transporte coletivo.
O que é “planejamento de deslocamento”? Como esse processo ajuda o usuário do app de mobilidade?
A ideia de planejar o deslocamento parte do entendimento de que o transporte é um serviço. Por isso, na hora de escolher o modo a ser usado, a pessoa leva em consideração diversos fatores, que podem variar de acordo com seu gênero, classe social, região e até o motivo do deslocamento (para o trabalho, para a balada, hospital etc).
De acordo com a pesquisa “Como o brasileiro entende o transporte urbano”, 76% dos brasileiros não planejam os seus gastos com transporte. Por isso, queremos ajudá-los a se planejar e mostrar que a 99 pode ser uma alternativa viável e até econômica para substituir o carro ou para complementar outros meios de transporte.