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10 Considerações sobre Populismo, uma breve introdução ou sobre o povo contra as elites ou quase isso

Fonte http://www.listasliterarias.com/2019/11/10-consideracoes-sobre-populismo-uma.html

O Blog Listas Literárias leu Populismo, uma breve introdução, de Simon Tormey publicado pela editora Cultrix; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:
1 – Como repetido algumas vezes na obra de Tormey, a explosão populista, verificada especialmente a partir de 2016 quando comentaristas e analistas acabam encontrando na eleição de Trump um marco para o debate, o assunto tem ocupado academia, imprensa e política, não raro com notas de alerta e preocupação deste avanço pelo globo, especialmente em muitas democracias sólidas, para as quais, alguns apontam o populismo como risco democrático. É a partir destes medos e comentários que Simon Tormey parte para por em debate o que seria e quais os riscos, se eles existirem, do populismo para o mundo;
2 – Todavia, há de se observar que o autor toma a cautela de apresentar seu trabalho enquanto uma breve introdução, o que é justificado em sua argumentação quando frisa diversas vezes das complexidades de compreensão e entendimento do populismo, além de lembrar que as raízes do fenômeno não explodem de uma hora para outra. Nesse sentido o livro é um convite a se aprofundar na discussão ao tratar-se enquanto breve introdução, uma introdução que passeia pelos diferentes populismos do Século XX, de forma introdutória, mas que de todo modo, está fortemente motivado pelas ondas do presente momento. Ondas turbulentas e não raro distintas entre si, pois que de modo geral uma das principais mensagens é de que há diferentes populismos, não raro, alguns antagônicos;
3 – Para tanto, em sua discussão, o livro abre-se com uma breve introdução com o questionamento por que populismo?, adentrando nesta introdução duas questões relevantes, como 2016 – a “explosão” do populismo e o pânico do populismo. Tal introdução nos surge mais como uma contextualização do presente dando conta dos fatores que levantam tamanho interesse no assunto;
4 – Tendo feito esta breve contextualização introdutória, Tormey parte então para a discussão, e em sua segunda parte procura debater o que é populismo? e ainda por que ele parece tão difícil de definir? Nesta parte veremos o autor trazer à baila um [até longo] percurso histórico do populismo, de manifestações na Rússia aos Estados Unidos. Já nesta parte ele trará o conceito basilar que será reforçado ao longo de sua argumentação, de tratar-se de uma luta entre “o povo” e “as elites”, bem como o papel do líder em movimentos populistas. Nesse levantamento das principais características do populismo, ao fim Tormey alerta que “há críticas importantes sobre como o populismo tem sido definido e sua efetiva utilidade para análise política”, com isso faz também certa crítica de que muitos comentaristas e analistas atiram-se ao sendo-comum sem uma discussão aprofundada sobre o que seria de fato o populismo e suas consequências para a democracia;
5 – Na sequência, em sua terceira parte, os olhares voltam-se ao presente ao por que agora? explicando a insurreição populista. Para tanto ele partirá da análise dos descontentamentos, no caso, três que lhe merecem atenção, o descontentamento econômico, o cultural e o democrático. Em sua análise ele observará como tais elementos relacionam-se ou dão base ao surgimento de movimentos populistas. O faz, todavia, de forma crítica, observando tais descontentamentos do “demos”, no caso o povo, e procurando demonstrar como cada um deles repercute em acontecimentos como a eleição de Trump ou o Brexit. É a partir desta argumentação, eloquente e consistente, aliás, que o autor acaba propondo que “o populismo é menos causa do declínio democrático, como às vezes é sugerido na mídia, que efeito ou sintoma de uma crise mais ampla”;
6 – Aliás, vale ressaltar que Tormey fará paralelamente tal discussão acerca de democracia e populismo, justamente porque tem se dito reiteradamente que o populismo tem sido causa de risco às democracias. Nesse sentido, o autor observa a questão de forma mais complexa, como pudemos ver, e de forma reiterada, por sinal, argumentará ao longo de sua obra a necessidade de não confundir-se obrigatoriamente populismo com autoritarismo. Tal distinção é feita com certa enfase ao longo do livro, de modo que ele alerta que alguns discursos o líderes populistas podem na verdade esconder projetos autoritários de poder, de modo que é ao autoritarismo que Tormey deposita dos riscos das democracias atuais. E isso será discutido de forma cuidadosa na quarta parte do livro, perguntando se o populismo é uma ameça à democracia? pois lembra ele de que “a questão de saber se o populismo é uma ameaça à democracia sem dúvida alguma é urgente”;
7 – Na sexta parte partimos para o debate de um fenômeno que como ressaltado pelo autor não é nada novo no universo da política, mas que atingiu novas possibilidades e usos com o advento das tecnologias da informação, as redes sociais, etc. O populismo é uma variedade de “política das Pós-verdade”? pergunta-se analisando as fake news e a intensa relação com os discursos populistas recentes. Para isso ele parte do princípio de que o “pós-modernismo e o relativismo são, portanto, cúmplices da criação de uma atmosfera de ceticismo da verdade” refletindo como isto, se por uma lado traz questões positivas, por outro, abriu grande campo para líderes, muitas vezes autoritários, valerem-se dessa “pós-verdade” como estratégia de poder;
8 – O autor, encerra o livro em sua parte 6 trazendo algumas de suas conclusões. Todavia, diante do que até aqui expomos, vale dizer que a despeito de seu caráter de introdução, é possível dizer que o livro nos entrega uma interessante introdução cuja abordagem é bastante dialética com Tormey procurando cobrir diferentes pontos e perspectivas da questão. Isso pode parecer, às vezes, que se facilita a criação de polêmica, especialmente porque antes de pintar o populismo como o monstro temível, ele tenta compreende-lo. Por isso, por vezes, o leitor mais afoito pode pensar ser certa apologia ao populismo, mas longe disso, há uma sistemática busca pelo entendimento das engrenagens do populismo. Além disso, Tormey mostra que nesta complexidade, pouco importa a questão direcional, pois que projetos o movimentos populistas têm nascido à esquerda e à direita do espectro político, sendo que o extremo desta direita um local aparentemente mais fértil a esse tipo de discursos e com mais exemplos em pleno andamento ao redor do globo. Do mesmo modo, em sua análise, o autor mostra as diferenças entre tais populismos, à esquerda e à direita, de modo que vale dizer ao leitor desta fluidez argumentativa que procura de fato discutir uma questão em diferentes matizes e camadas;
9 – Por outro lado, embora como já dissemos aqui, haja essa diferenciação entre populismo e autoritarismo, nos ressentimos talvez de uma abordagem mais detalhada de uma faceta do autoritarismo travestido de populismo, o demagogo. Talvez, nesse sentido, o Brasil de Bolsonaro, lembrado algumas vezes no livro, inclusive como possível projeto populista, é um elemento de interessante reflexão. Mesmo que esparsas citações quanto à demagogia apareçam no livro, essa é uma questão que não é levada mais a fundo por Tormey. O populismo, parece-nos, é um discurso eficiente enquanto ferramenta usada pelo demagogo, que em seu discurso é um populista, enquanto sob esse discurso, põe-se em movimento o autoritário. Por isso, pensamos, ser tão questionável os comentários que procuram inserir o Brasil de Bolsonaro como exemplo de um governo populista. Acreditamos que a questão é mais complexa que isto, pois que, a despeito de um ou outro rompante populista de Bolsonaro, é mais fácil vê-lo enquanto tentativa de imposição de projeto autoritário. Exemplos não faltam, especialmente das políticas de denuncismo estabelecidas como caça à opinião divergente, inclusive por meio do Ministério da Educação e do tal Ministério da Família, um braço radical do governo que se já soava como coisa orwelliana, com o passar do tempo, as ações só confirmam tais impressões sobre essa estrutura, tal qual uma narrativa distópica. Ademais, se a síntese do populismo é a luta entre “o povo” e “as elites”, as principais reformas e feitos do atual governo é de dar nó em pesquisador, pois que, tendo os poucos sucessos na área econômica, é praticamente impossível apontar uma única ação populista de Bolsonaro. Pelo contrário, se apertou o cinto na previdência, se desonerou os ricos empresários, enquanto se taxou o desempregado. É nesse aspecto que pensamos que o livro, ainda que uma breve introdução, deveria trazer talvez uma parte tratando da relação demagogia e populismo, pois temos um interessante exemplo por aqui;
10 – Mas enfim, Populismo, uma breve introdução parece querer desmistificar alguns preconceitos quanto ao populismo, afastando-o de ser uma ideologia semelhante ao capitalismo ou comunismo, bem como de certa forma relativizando seu perigo à democracia, legando tal risco às crises e aos autoritários. Além disso, procura observar alguma luz em meio a essa onda populista e demonstrar que nem sempre ele é uma ameça ao pluralismo, pelo contrário, o autor tenta demonstrar caminhos alternativos. Ademais, há certa coerência ao analisar que o populismo não é a causa da crise, mas a consequência de crises, o que no embate ao próprio populismo é uma compreensão interessante. Nesse sentido é que o livro é um convite ao debate, que abre portas introdutórias e nos leva a querer aprofundar a discussão e o debate para além do que já está posto. Não trata-se de um livro para concordar ou discordar, mas sim, de se ampliar perspectivas, encontrando argumentos razoáveis em determinadas questões enquanto também nos permite refutar ou apontar questões a se avançar quanto ao tema.

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