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Ilustrador da Sociedade Zoológica de Londres e do Museu Britânico, Edward Lear criou uma série poesias nonsense, muitas inspiradas em sua carreira científica
No mundo pré-fotográfico, os cientistas dependiam de artistas para fazer registros de animais, plantas ou paisagens. Museus e sociedades científicas tinham seus próprios artistas especializados, que ganhavam a vida ilustrando as últimas descobertas da ciência. Na Inglaterra vitoriana, um dos maiores artistas desse gênero foi Edward Lear [1812-1888].
Vigésimo filho de uma família com 21 rebentos, Lear começou a carreira como ilustrador para a Zoological Society of London em 1831. Nos anos seguintes ele também faria trabalhos para o Museu Britânico e passaria a pintar paisagens. Em 1846, deu aulas de desenho à própria Rainha Vitória [1819-1901]. Na mesma época em que a fotografia tomava o espaço das ilustrações científicas, ele começou a se aventurar pela literatura e a caricatura. Seus poemas, muitas vezes em forma de limerique — estrofe única com apenas 5 versos e rimas no esquema AABBA —, eram notáveis pelo humor absurdo e complementados por ilustrações não menos surreais. Nesse sentido, Lear pode ser considerado um precursor do surrealismo.
Além dos sete livros de viagens e outros três com desenhos zoológicos, Lear publicou, já nos anos 1870, uma série com poemas nonsense. Muito desse humor absurdo era inspirado nos seus conhecimentos científicos, principalmente na botânica. Nesse caso, Lear brincava com o sistema binomial proposto um século antes pelo naturalista Carolus Linnaeus [1707-1778]. Usado até hoje para nomear animais, plantas e outros seres vivos, o sistema de Lineu usa palavras latinas para formar um nome duplo: a primeira parte é o gênero e a segunda, a espécie dentro daquele gênero. Grosso modo, é como o sistema onomástico oriental, que põe o sobrenome na frente do nome individual.
Tal como nos desenhos do Papa-Léguas em meados do século XX, Lear pega essa estrutura de nomenclatura e subverte-a com combinações de palavras em inglês disfarçadas num latim macarrônico (na época, era comum que o nome específico também fosse grafado com inicial maiúscula) para descrever plantas onde brotam animais, pessoas, móveis e objetos domésticos no lugar de flores ou frutos. Aqui, reproduzimos algumas dessas invenções botânicas de Lear e, quando necessário, buscamos adaptar suas brincadeiras binomiais para o português.
Estas são apenas algumas das entradas de botânica numa enorme coletânea póstuma da literatura nonsense de Edward Lear. Além das plantas inventivas com nomes engraçadinhos, Nonsense Books (1888) traz receitas absurdas, histórias infantis e muitos, muitos versos cômicos ilustrados com caricaturas de Lear. A obra foi digitalizada pela Biblioteca Pública de Nova York e pode ser lida (ou baixada) gratuitamente.
Veja também: Botânica Paralela e Pé de Pato.
[via Public Domain Review]