Fonte https://www.huffpostbrasil.com/entry/sanna-marin-genero-igualdade_br_5e2c7808c5b6779e9c339d4f
Sanna Marin, primeira-ministra da Finlândia, pediu que governos e empresas façam mais para garantir que as mulheres sejam tratadas de maneira justa, dizendo que a “igualdade não acontecerá por si só”, sem esforços contínuos.
A paridade de gênero é um grande tema na 50ª reunião anual do Fórum Econômico Mundial (WEF) que acontece nesta semana Davos, na Suiça. Uma série de relatórios destacando as contínuas lacunas de riqueza e oportunidades entre homens e mulheres em todo o mundo foram divulgadas no evento.
Marin, que aos 34 anos é a mais jovem primeira-ministra do mundo, disse que não foi uma grande surpresa que o governo finlandês, atualmente, seja comandado majoritariamente por mulheres, mas disse que avalia o debate que isso causou, no fim de 2019, muito positivo para pensar representatividade.
“Esperamos que, no futuro, este seja o novo normal”, disse Marin em sua fala no Fórum Econômico Mundial em que a plateia tinha, em sua maioria, mulheres. “Precisamos de leis e estruturas que conduzam à igualdade de gênero. Isso simplesmente não acontece por si só”.
Cerca de 3.000 membros da elite política, filantrópica e corporativa do mundo – reunidos por quatro dias nos Alpes suíços – ouviram como o mercado livre falha com as mulheres, que se ocupam mais do trabalho doméstico e do cuidado familiar, limitando suas oportunidades remuneradas.
Um relatório da Oxfam divulgado no início da cúpula apontou que mulheres e meninas, no mundo, gastam cerca de 12,4 bilhões de horas por dia realizando atividades domésticas e não remuneradas, o que acentua o impacto da desigualdade de renda na vida das mulheres a nível global.
Se fosse contabilizado e remunerado, esse trabalho agregaria pelo menos US$ 10,8 trilhões à economia mundial todo ano, estima a ONG. Cerca de 42% das mulheres no mundo em idade economicamente ativa estão fora do mercado de trabalho porque estão cuidando de alguém. Entre os homens, a fatia é de 6%, um número exponencialmente menor.
Um relatório do Fórum Econômico Mundial, lançado ainda em dezembro de 2019, apontou que levaria 99,5 anos para eliminar a disparidade de gênero na política, economia, saúde e educação, de acordo com as tendências atuais.
Um porta-voz do Fórum disse que a participação feminina entre os participantes da cúpula aumentou para 24% este ano, ante 22% no ano passado, com o compromisso da organização de dobrá-la até 2030.
Além de Marin, participaram a chanceler alemã Angela Merkel, a ativista climática sueca de 17 anos, Greta Thunberg, e a atriz de Bollywood Deepika Padukone.
“Mas a igualdade não é apenas uma questão de mulheres, é também uma questão de homens”, disse Marin, que foi eleita primeira-ministra em dezembro.
No evento, Thando Hopa (foto acima), a primeira modelo com albinismo a aparecer na capa da Vogue, convidou líderes empresariais e políticos a criar ativamente oportunidades às mulheres.
“A ausência de representação não se traduz em ausência de vida, de talento ou de valor”, disse a advogada de 31 anos enquanto caminhava pelo palco para um cenário de imagens coloridas de sua carreira de modelo. “Seja deliberado sobre diversidade e inclusão.”
Gabriela Ramos, chefe de gabinete da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, disse que o progresso foi lento, apesar da crescente conscientização sobre o valor econômico das mulheres.
Ela disse que os governos devem ser mais proativos na revisão dos sistemas e regras tributárias para abordar a lacuna de gênero.
“Há um papel muito forte para os governos como reguladores”, disse Ramos. “Precisamos de soluções concretas.”
As mulheres do governo na Finlândia
Em dezembro de 2019, Sanna Marin foi eleita a nova primeira-ministra da Finlândia e, ao mesmo tempo, aos 34 anos, se tornou a premiê mais jovem do mundo a liderar um novo governo de coalizão protagonizado majoritariamente por mulheres após uma reestruturação política no país.
A título de comparação, tanto no Brasil quanto nos EUA, a idade mínima para se tornar presidente é de 35 anos.
“Eu nunca pensei na minha idade ou gênero, mas nas questões pelas quais assumi a política e nas razões pelas quais confiaram em nós nas eleições”, afirmou à emissora pública do país nórdico YLE após o anúncio da eleição.
Marin tomou posse em meio a uma onda de greves dos correios e protestos que interromperam a produção em algumas das maiores empresas do país. A Confederação Finlandesa das Indústrias estimou, à épica, que as greves custarão às empresas o total de 500 milhões de euros em receitas perdidas.
Finlândia foi um dos primeiros países da Europa a conceder o direito de voto às mulheres, em 1906, e foi o primeiro do mundo a eleger mulheres para o Legislativo, em 1907. 112 anos depois, o país alcança a posição de ser um dos poucos países no mundo que conta com a maioria de mulheres na política.
Kulmuni, que anteriormente ocupou a pasta menos importante de ministra de Assuntos Econômicos, substitui Mika Lintila. Ela assumiu o comando do Partido de Centro do ex-premiê Juha Sipila em setembro.
A líder do Partido Verde, Maria Ohisalo, de 34 anos, continuará como ministra do Interior, a presidente da Aliança de Esquerda, Li Andersson, de 32 anos, como ministra da Educação e Anna-Maja Henriksson, de 55 anos, do Partido do Povo Sueco, como ministra da Justiça.
Rinne continuará como líder dos Social Democratas ao menos até a conferência partidária que comandará em junho de 2020.