Para ajudar pessoas refugiadas e migrantes em situação de vulnerabilidade a enfrentar as baixas temperaturas já registradas em várias partes do Brasil, a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) iniciou a distribuição de roupas de frio para esta população. As roupas distribuídas foram doadas ao ACNUR pela empresa japonesa UNIQLO.
Quase uma tonelada de roupas será distribuída por meio dos parceiros do ACNUR em diferentes partes do país, onde o inverno se inicia oficialmente no próximo dia 21 de junho. A iniciativa beneficiará refugiados e migrantes em São Paulo, Roraima, Paraná e Rio Grande do Sul. No total, cerca de 900 quilos de roupas serão distribuídos nos próximos dias.
Às vésperas do inverno os termômetros na cidade de São Paulo já registraram uma baixa da temperatura média para esta época, que chegou a 11ºC no final de maio. Já na região sul do país, a mínima temperatura registrada foi de -4ºC, afetando especialmente populações que enfrentam os desafios adicionais dos impactos sociais e econômicos gerados pela pandemia de coronavírus.
A primeira ação foi realizada no dia 3 de junho no Centro de Integração da Cidadania (CIC) do Imigrante, localizado no bairro da Barra Funda, em São Paulo. Pouco mais de 150 peças foram repassadas às pessoas atendidas pela instituição e outras centenas foram entregues às organizações parceiras do ACNUR, que cobrem as regiões Sudeste e Sul do país: Cáritas Arquidiocesana de São Paulo (SP), Cáritas Paraná (PR), ASAV (RS) e Aldeias Infantis (várias localidades), com previsão de repasse às pessoas em situação de refúgio na próxima semana.
Em Boa Vista, a distribuição será feita aos refugiados e migrantes venezuelanos inscritos na estratégia de interiorização, que leva pessoas de Roraima para outros estados do país em busca de melhores condições de integração social e econômica.
Para Charlote, congolesa que vive no Brasil há cinco anos, o frio é uma preocupação adicional para quem precisa manter sua autossuficiência e avançar no processo de integração local. Em seu caso, ela suspendeu o curso profissionalizante que realizava e ficou desempregada devido ao fechamento dos negócios causado pela pandemia.
A situação de Charlote reflete a realidade das demais pessoas atendidas no CIC do Migrante, em São Paulo: 93% das 153 pessoas atendidas estão desempregadas, 76% não recebem o Bolsa Família e 59% não conseguiram ainda ter acesso ao auxílio emergencial pago pelo Governo Federal.
“As roupas chegaram no momento em que mais precisamos. Já parece que estamos no inverno de São Paulo pelo frio que está fazendo. E as dificuldades que temos enfrentado deixam nossas vidas ainda mais inseguras”, disse a enfermeira de 42 anos. Ela recebeu um novo casaco, com gola reforçada e capuz para se proteger do frio.
A situação de insegurança alimentar e de poucos recursos também é a realidade de Saidu, de 30 anos, que chegou ao Brasil no ano passado, vindo da Burkina Faso. Ele está sem trabalho e não está inscrito em qualquer serviço social por dificuldade de reconhecimento da sua documentação, o protocolo de solicitação de refúgio.
“A situação está muito difícil neste momento. Eu trabalhava como cozinheiro, estava pagando minhas contas, conseguindo juntar um pouco de dinheiro para ter meu próprio negócio. Mas o restaurante fechou. O dono disse que assim que reabrir vai me contratar novamente, mas não há uma previsão. E as despesas vão se acumulando”, contou o cozinheiro.
As medidas de confinamento decorrentes da COVID-19 fazem com que muitas das pessoas que chegaram ao Brasil em busca de proteção internacional estejam em uma situação de pobreza, caindo muitas vezes num ciclo de vulnerabilidade social que envolve a uma alimentação insuficiente e falta de recursos para cobrir necessidades básicas, como saúde, moradia, vestuário e alimentação. Isso aumenta os riscos de proteção desta população.
“A distribuição de roupas atende a uma das mais urgentes necessidades humanitárias de pessoas refugiadas e migrantes em situação de vulnerabilidade, especialmente nesta época do ano. Estamos felizes de fazer isso com o apoio de nossos doadores do setor privado e em colaboração com parceiros governamentais e da sociedade civil”, afirmou o Representante do ACNUR no Brasil, Jose Egas.
A Agência da ONU para Refugiados segue comprometida em garantir os direitos fundamentais das pessoas refugiadas no Brasil, reforçando sua atuação em diversas localidades para superar os desafios existentes.