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As empresas brasileiras mais afetadas pela derrota de Macri na Argentina

SÃO PAULO – A derrota acachapante do atual presidente argentino, Mauricio Macri, nas primárias do país derrubou o Ibovespa na segunda-feira. Como muitos cientistas políticos consideram a derrota irreversível, convém analisar as empresas listadas na B3 que podem sofrer o maior impacto com uma vitória de Alberto Fernández e Cristina Kirchner.

Além das empresas brasileiras que já vinham sofrendo com a instabilidade do mercado argentino, algumas companhias aumentaram sua exposição no país à espera de uma recuperação da economia. Ainda que não se possa prever como Fernández comandará o país, dez em cada dez analistas concordam que a volta de Kirchner ao poder trará mais instabilidade à economia. 

“O efeito que temos no Brasil é mais com relação à parte comercial, das indústrias, que podem ser afetadas. O contágio financeiro, como tínhamos no passado, hoje é bem menor ou quase inexistente”, diz Adauto Lima, economista-chefe da Western Asset no Brasil em entrevista ao InfoMoney

A Argentina, vale lembrar, ainda é o terceiro maior parceiro comercial do Brasil, depois da China e dos Estados Unidos. Com base em relatórios de instituições como Itaú BBA e BTG Pactual e opiniões de analistas, o InfoMoney compilou a lista a seguir com as empresas que podem ser afetadas com o governo Alberto Fernández e Cristina Kirchner.

CVC

A companhia de turismo CVC anunciou no começo de agosto a aquisição da companhia argentina Almundo, por US$ 77 milhões. Com a aquisição, a CVC dobra de tamanho e se torna a segunda maior empresa de turismo da Argentina, com 16% de participação do mercado. Em entrevista ao InfoMoney na última semana, o presidente da companhia disse que o objetivo da CVC é ser a líder na Argentina e afirmou que estava animado com a perspectiva de recuperação da economia vizinha nos próximos anos. 

Marcopolo

O mercado argentino sempre foi importante para a fabricante de carrocerias de ônibus Marcopolo. Apesar da queda na demanda nos últimos anos, em julho a companhia anunciou a aquisição de 49% da empresa argentina Metalsur Carrocerias por US$ 9 milhões. Por meio de uma reorganização societária, a Marcopolo passou a deter, direta e indiretamente, 70% do capital social da empresa argentina — acreditando numa melhora desse mercado.

“Por acreditar no potencial da economia e em sua retomada é que a Marcopolo está investindo e se preparando para este momento”, afirmou André Vidal Armaganijan, diretor de Estratégia e Negócios Internacionais da Marcopolo, na data do anúncio da aquisição. 

Mahle Metal Leve, Fras-le e Random

Apesar de toda a instabilidade do país, a Argentina continua sendo o maior mercado de exportações para o setor de autopeças brasileiro. Por isso, cada notícia nova impacta diretamente as empresas do setor. No primeiro trimestre a Mahle Metal Leve teve queda de 10,4% em seu lucro justamente por conta da Argentina. Na Fras-le, as operações na Argentina correspondem a 16% da companhia. A Random, que controla a Fras-Le, também tem sofrido por conta do fraco desempenho da exportação de caminhões no país. 

Marfrig e Minerva

Um dos raros setores que têm se beneficiado da instabilidade econômica na Argentina neste ano é o dos frigoríficos. Dois frigoríficos brasileiros têm forte presença no país. A Marfrig concluiu, em janeiro, a aquisição das operações da argentina Quickfood, enquanto a Minerva atua no país por meio da Athena Foods. 

A Argentina teve uma forte exportação de carne nos últimos meses influenciada por três fatores: a forte desvalorização cambial, a alta na demanda do mercado chinês e o restabelecimento das exportações para os Estados Unidos, após 17 anos de embargo. 

Mas, para especialistas, a boa fase pode não durar por muito mais tempo. Pecuaristas argentinos vêm sofrendo com aperto de crédito e aumento dos custos na ração animal — o que pode reduzir o tamanho do rebanho e, consequentemente, o potencial de exportação das fábricas argentinas. Além disso, especialistas avaliam que o retorno de Cristina Kischner poderia enfraquecer as relações comerciais e exportações argentinas. 

Banco do Brasil

O banco do Brasil possui exposição à Argentina por meio do Banco Patagônia. No ano passado a instituição brasileira elevou sua presença no banco do país vizinho para 80,38%, após três acionistas minoritários terem exercido opção de venda. Segundo relatório do Itaú BBA, o Banco do Brasil tem cerca de 4% de sua receita exposta à Argentina — por meio do Banco Patagônia e também de empréstimos no país. 

Usiminas 

Ainda que não possuam uma larga operação direta no mercado argentino, as siderúrgicas brasileiras são impactadas indiretamente pela economia argentina por conta do setor automotivo. Analistas calculam que a indústria automobilística brasileira tenha uma dependendência do mercado argentina atualmente entre 10 e 15%. 

Dentre as empresas do setor, a mais exposta é a Usiminas que depende altamente do setor e possui baixa diversificação geográfica. Em 2018, a Argentina foi o destino de cerca de 40% das exportações da siderúrgica. 

Alpargatas

Trimestre após trimestre a Alpargatas vem sofrendo com a queda de suas vendas na Argentina. No segundo trimestre, as vendas no país recuaram 8,1%, de acordo com os dados divulgados na sexta-feira (9). Em julho, a empresa vendeu seus ativos no segmento têxtil na Argentina por US$ 14,4 milhões. Em dezembro do ano passado a empresa também vendeu 21,8% da operação da Topper na Argentina para o grupo Sforza, do empresário Carlos Wizard Martins. 

Ambev

Assim como a Alpargatas, a Ambev vem sofrendo com a inflação e a instabilidade da Argentina. “A situação macroeconômica na Argentina continua desafiadora, com uma moeda desvalorizada e alta inflação acarretando em uma baixa confiança do consumidor”, afirmou a companhia na divulgação dos resultados do segundo trimestre. O volume de bebidas caiu 8,9% no segundo semestre principalmente por conta da Argentina. 

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