Fonte https://www.huffpostbrasil.com/entry/bolsonaro-wassef_br_5ef13d8cc5b6d15b45a52fe1
A família Bolsonaro tenta afastar-se do advogado Frederick Wassef, que procura se desvencilhar de relação com o ex-policial militar Fabrício Queiroz, de quem também o clã presidencial pouco quer ouvir falar. É uma bola de neve da qual o presidente e seus filhos querem se manter longe, mas sabem que não podem. Temem que qualquer um dos dois “fale demais”, afirmou um interlocutor palaciano ao HuffPost.
Falar muito, inclusive, foi um dos motivos que levaram Wassef a ser afastado da defesa de Flávio Bolsonaro no caso das rachadinhas, o suposto esquema de apropriação de parte do salário de servidores dos gabinetes quando o 01 era deputado estadual da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), de acordo com apuração do HuffPost no Palácio do Planalto.
O anúncio oficial ocorreu no domingo (21), pela forma convencional com que a família faz seus comunicados: as redes sociais. Porém, para evitar constrangimentos maiores — com muitos elogios ao agora ex-funcionário. O advogado Rodrigo Roca Pires vai assumir o caso. Ele já defendeu o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral.
O HuffPost questionou Flávio Bolsonaro, por meio de sua assessoria de imprensa, se não havia incômodo de ser defendido pelo advogado que já prestou serviço a um condenado por corrupção [Cabral] — quando Sergio Moro deixou o governo fazendo acusações contra Jair Bolsonaro, o ex-ministro da Justiça contratou Rodrigo Sánchez, que já defendeu o ex-deputado Eduardo Cunha e foi alvo de críticas de bolsonaristas por conta disso.
A reportagem também perguntou à assessoria de Flávio se o fim da relação de trabalho se deu via advogados, ou se Wassef e ele se falaram. Até a publicação desta reportagem, não houve retorno aos questionamentos.
Forte amizade
Durante o fim de semana, Wassef fez questão de deixar ainda mais evidente sua estreita relação com o clã bolsonarista. Em entrevista à CNN, ele ressaltou que qualquer coisa que “bater no Fred, atinge o presidente”. E completou: “Eu eu o presidente viramos uma pessoa só”.
Ao falar com a Folha de S.Paulo, o advogado negou o apelido “Anjo” e disse que a operação que prendeu Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro quando deputado estadual no Rio de Janeiro, teve o “objetivo de destruir” sua imagem.
Enquanto Wassef falava, entre os palácios do Planalto e da Alvorada e os bairros residenciais em Brasília, mandatário e aliados traçavam estratégias para tentar minimizar o impacto de suas declarações.
Conforme fontes palacianas destacaram ao HuffPost, Bolsonaro demonstrou irritação com “tanta entrevista” de Wassef.
Que Anjo, como era, sim, chamado pelo clã, sempre foi mais que próximo de Jair Bolsonaro, já se sabia. Isso era motivo de aborrecimento e ciúmes nos corredores palacianos. O advogado tinha livre trânsito nos palácios em Brasília na semana e aos finais de semana também.
Agora, as mesmas pessoas que já haviam aconselhado o presidente a manter distância do advogado procuram desvincular Bolsonaro de Wassef. São, a maioria, ministros da ala militar do governo.
Desde quinta passada, quando ocorreu a prisão de Fabrício Queiroz no sítio de Wassef, em Atibaia, Bolsonaro não diz uma única palavra sobre o caso. O fez em sua live semanal. Não é de seu feitio ficar tanto tempo sem dar declarações. Conforme informações levantadas pelo HuffPost, ele “tem sido bom ouvinte” e “embora nervoso com a situação, tentado seguir os conselhos de se manter em silêncio”.
A reportagem também questionou, via assessoria de imprensa de Flávio Bolsonaro, se a família pretende seguir mantendo contato com o advogado, já que além de defensor, ele também mantinha relações pessoais com o clã. Nenhuma pergunta foi respondida até o momento. A intenção de aliados do presidente, porém, é que esse contato seja apenas protocolar, para manter Wassef “sob controle”.
Antes da prisão de Queiroz, tanto Wassef quanto Flávio já haviam declarado não saber onde estava o ex-assessor e que não tinham contato com o ex-PM desde que ele realizou uma cirurgia para tratar um câncer, no início do ano passado.
No fim de semana, o advogado mudou o tom e admitiu que ele esteve em sua propriedade algumas vezes, porque realizava tratamento em Bragança Paulista, cidade próxima a Atibaia.
Wassef voltou a se pronunciar nesta segunda. Disse ao jornal do SBT que abrigou Wassef por “questões humanitárias”, mas negou tê-lo escondido ou cometido qualquer ilícito cedendo o local para que ele se hospedasse por lá. “Não há nenhuma irregularidade. (Foi) também uma questão humanitária. Porque (é) uma pessoa que está abandonada, uma pessoa sem recursos financeiros, com problemas de saúde e que o local era perto.”
O HuffPost tentou contato com o advogado por diversas vezes, por telefone e WhatsApp, mas não obteve retorno.
De bico fechado
Assim como Wassef, também é alvo de preocupação do presidente Fabrício Queiroz. Preso, ele já havia declarado anteriormente que poderia assumir sozinho a responsabilidade pelo caso da rachadinha no gabinete de Flávio Bolsonaro. Só que havia um porém — no caso dele, a ressalva era quanto ao envolvimento de sua família.
Porém, a esposa de Queiroz, Márcia, também recebeu ordem de prisão. Até esta terça (23), ela ainda é dada como foragida. Ela e a filha Nathália, assim como Fabrício, trabalharam no gabinete do ex-deputado estadual agora senador. Conforme interlocutores, a única coisa que Queiroz teria falado, no momento de sua prisão e até o momento, foi perguntar sobre a filha. Por isso aumenta o temor presidencial e de todo o clã sobre a possibilidade de ele vir a fazer uma delação.
Como revelou o HuffPost na semana passada, esse medo elevou a temperatura no Palácio do Planalto na quinta (18) e fez Bolsonaro se exaltar de tal forma, que ele gritou com auxiliares e disse que era preciso “dar um jeito” de o “Queiroz ficar calado”.
Embora Bolsonaro conhecesse Queiroz desde a década de 80 e o advogado há apenas 6 anos, ninguém consegue entender por que ele dedica mais confiança a Anjo. Assessores afirmam que ele continua confiando na fidelidade dele.