Fonte https://www.huffpostbrasil.com/entry/mortes-covid-13-junho_br_5ee52163c5b677e92a6003ce
Após ultrapassar o Reino Unido no ranking de países com mais vítimas da pandemia do novo coronavírus e se tornar o segundo na lista, o Brasil atingiu 42.720 mortes, de acordo com balanço divulgado pelo Conass (Conselho Nacional dos Secretários de Saúde), neste sábado (13), com dados até as 18h.
São 892 óbitos a mais confirmados desde sexta-feira (12), quando o Brasil ultrapassou o Reino Unido e se tornou o segundo País com mais mortes causadas pela covid-19.
O país europeu acumulava, até essa sexta, 41.566 vítimas fatais da doença, de acordo com o mapeamento do Centro de Recursos de Coronavírus da Universidade Johns Hopkins. No início do mês, o Reino Unido ocupava o quarto lugar no ranking mundial. Em 4 de junho, se tornou o terceiro após superar a Itália, que foi um dos principais epicentros na Europa da crise sanitária e um dos cenários mais dramáticos da pandemia até então.
O novo coronavírus já causou mais de 428 mil óbitos no mundo. São quase 7,7 milhões de casos confirmados, de acordo com dados atualizados neste sábado.
No Brasil, são 850.514 diagnóstico confirmados, segundo dados do Conass mais recentes. O número representa 21.704 a mais do que os 828.810 registrados no balanço de ontem.
Em números absolutos, o estado de São Paulo lidera o ranking, com 10.581 óbitos, seguido pelo Rio de Janeiro (7.592), Ceará (4.829), Pará (4.177) e Amazonas (2.465).
Desde a semana passada, houve uma série de idas e vindas na forma de divulgação dos boletins epidemiológicos do Ministério da Saúde. Após atrasar o horário de envio dos dados, a pasta não informou o acumulado de mortes e diagnósticos na última sexta-feira (5). Também foi anunciada uma mudança na metodologia.
Brasil é epicentro da pandemia no mundo
O Brasil é o epicentro da pandemia no mundo. Enquanto todos os países mostraram desaceleração a partir do 50º dia após o início da contaminação, nós seguimos na direção contrária. A partir do 54º dia, o Brasil é o país com a maior taxa de crescimento de casos confirmados, de acordo com dados analisados pelo grupo Covid-19 Brasil.
A iniciativa reúne cientistas de universidades brasileiras e de centros de pesquisa como a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e a Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos.
Na comparação internacional, o Brasil é o segundo país com mais diagnósticos, atrás apenas dos Estados Unidos, que conta com 2 milhões de casos, de acordo com o mapeamento do Centro de Recursos de Coronavírus da Universidade Johns Hopkins.
A diferença das taxas de testagem dos dois países – 37.188 testes por milhão de habitantes nos Estados Unidos e 8.737 por milhão de habitantes no Brasil – é uma evidência da subnotificação da crise sanitária no cenário brasileiro.
Evolução da pandemia no Brasil
Os dados mais recentes evidenciam mais uma vez o agravamento da crise sanitária no País, assim como a aceleração. O marco de mais de 10 mil mortes foi atingido em 9 de maio. Em 21 de maio, o total dobrou e ultrapassou 20 mil óbitos. Em 2 de junho, as vítimas fatais da pandemia superaram o patamar de 30 mil.
A confirmação de mais de mil mortes de um dia para o outro já ocorreu 14 vezes. A primeira foi em 19 de maio, quando foram confirmados 1.170 óbitos.
O número também foi um marco na evolução diária da pandemia quando comparada a outros países. Superou o total de 919 mortes confirmadas de um dia para o outro no fim de março na Itália.
Na semana seguinte, em 25 de maio, o Brasil ultrapassou os Estados Unidos no registro diário de mortes: 807 novos óbitos confirmados pelo Ministério da Saúde no mesmo dia em que o Centro de Prevenção e Controle de Doenças (CDC) americano incluiu 620 mortes no balanço oficial.
Segundo dados do Ministério da Saúde, são 2.779 casos por milhão de habitantes no País e 155 óbitos por milhão de habitantes. Os indicadores variam dentro do território, sendo que a região Norte está na situação mais crítica. São 333 óbitos por milhão de habitantes.
Também de acordo com a pasta, até a última quinta (4), 4.222 (75,8%) dos municípios brasileiros registraram casos de covid-19 e 1.821 (32,7%) confirmaram óbitos causados pela doença. Em 28 de março, eram apenas 297.
Profissionais de saúde vítimas da pandemia
Segundo dados informados pelo Ministério da Saúde nesta sexta, 169 profissionais de saúde morreram vítimas da covid-19. De acordo com a pasta, foram feitos 432.668 testes, sendo que 83.118 indicaram contaminação pelo vírus, 159.762 tiveram resultado negativo e outros 189.788 estão sem resultado.
Entre os óbitos deste grupo, 42 eram enfermeiros, 18 médicos, 6 nutricionistas, 6 farmacêuticos e bioquímicos, 5 dentistas, 2 psicólogos ou psicanalistas, 2 fisioterapeutas e outros 88 registros não continham informação profissional.
Os números são inferiores a levantamentos feitos pelas categorias profissionais. De acordo com dados do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), há 18.708 casos reportados de enfermeiros infectados e 194 mortes só dessa categoria.
Ministério da Saúde dificulta análise
Até 4 de junho, o Ministério da Saúde enviava aos jornalistas, por meio de uma rede de transmissão via WhatsApp, um boletim com o total de casos e de óbitos confirmados nas últimas 24 horas, assim como o acumulado dos dois dados.
Após atrasar a divulgação desses boletins diários, na última sexta-feira (5) a imagem informava apenas os casos e óbitos confirmados nas últimas 24 horas, sem o acumulado. O total de diagnósticos e de mortes também deixou de estar disponível no site covid.saude.gov.br.
No fim de semana passado, o Ministério da Saúde informou que adotaria uma nova metodologia, com boletins diários de óbitos ocorridos nas últimas 24 horas e não confirmados. Na prática, ela inviabiliza uma comparação com os dados anteriores, dificultando a compreensão da evolução da pandemia no Brasil. Ela também dificulta a comparação dos números com outros países, por adotar critérios distintos do resto do mundo.
Há uma atraso entre o dia em que a morte ocorreu e o dia em que essa informação foi confirmada em laboratório que pode ser superior a um mês. Por esse motivo, para fins de entender a curva epidemiológica e viabilizar comparações, os países têm disponibilizado os dados dos óbitos por data de confirmação.
Com a mudança de critério pelo governo federal, as “novas mortes” serão menores. Na prática, a medida também evita notícias sobre recordes de óbitos diários. Integrantes do governo de Jair Bolsonaro, especialmente a ala militar, têm criticado esse tipo de cobertura jornalística.
Na mesma linha, a Secom (Secretaria de Comunicação Social) criou o “Placar da Vida”, publicado diariamente nas redes sociais da Presidência. A publicação omite as mortes e destaca o número de recuperados.
Os integrantes do Ministério da Saúde não explicaram o motivo de adotar uma metodologia que causará esse tipo de prejuízo. Só é possível continuar comparando o total de óbitos se o ministério atualizar progressivamente as informações de mortes que tiverem a confirmação laboratorial após a data do óbito.
Na última terça (9), em reunião ministerial com o presidente, o ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello disse que será feita atualização retroativa. “Quando você bota no cálculo diário você vê que é acumulado nos dias de registro. O que eu coloco como proposta é que a gente use os mesmos números, mas nos dias do óbito (…) e vai corrigindo os anteriores aí você passa a observar exatamente a curva”, afirmou.
Nos últimos dias, o Brasil chegou a ser excluído do mapeamento do Centro de Recursos de Coronavírus da Universidade Johns Hopkins, referência internacional. O país voltou a aparecer nesta segunda-feira (8).
Desde domingo (7), o ministério também deixou de enviar aos jornalistas pela rede de transmissão via WhatsApp o boletim no formato anterior. Essa transmissão só foi retomada na terça-feira (9), após decisão do STF (Supremo Tribunal Federal).
Nesta sexta, entrou no ar a nova plataforma anunciada pelo governo federal. Os óbitos estavam contabilizados por data da notificação.
Subnotificação da pandemia
Além da falta de transparência, a subnotificação também prejudica uma compreensão real do cenário da crise sanitária no País. Como o HuffPost vem noticiando, a lentidão no processamento de testes laboratoriais, que detectam tanto a causa da morte quanto se a pessoa foi contaminada, leva a um atraso nos dados oficiais.
Há uma subnotificação de casos confirmados ainda maior devido à limitação de testes de diagnóstico. O exame tem sido direcionado apenas aos casos graves.
Segundo balanço apresentado em 4 de junho, 1.085.891 exames do tipo moleculares RT-PCR foram realizados, sendo 556.094 processados em laboratórios públicos e 529.797 na rede particular. Na rede pública, 74,1% são analisados em até 5 dias, de acordo com o ministério.
O levantamento inclui ainda outros 748.916 testes rápidos, que identificam se a pessoa tem anticorpos para o novo coronavírus. Os testes moleculares informam se a pessoa está infectada naquele momento.
A baixa testagem é um dos entraves apontados por sanitaristas para a flexibilização do isolamento social. Estados como Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco e Amazonas, com altos indicadores de mortalidade, têm iniciado esse tipo de medida.