A secretária-executiva da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), Alicia Bárcena, lembrou na terça-feira (9) que para reconstruir melhor a região pós-pandemia, é necessário igualdade e sustentabilidade ambiental, de forma a assegurar que ninguém seja deixado para trás.
As declarações foram feitas durante um evento internacional na sede das Nações Unidas em Genebra.
No evento intitulado “Desigualdades e Economia Informal: da crise para a resiliência a longo prazo”, Bárcena reuniu-se com Tatiana Valovaya, diretora-geral da ONU em Genebra, e Guy Ryder, diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Em sua apresentação, Bárcena afirmou que América Latina e Caribe têm a desigualdade de renda mais alta do mundo e se caracteriza por desigualdades em dimensões múltiplas relacionadas a gênero, idade, território, raça e status migratório, entre outras.
Além disso, indicou que 54% da população vive na informalidade, ou seja, trabalha sem nenhum tipo de proteção social. Neste cenário, as mulheres são o grupo mais afetado, já que têm a maior probabilidade de cair no desemprego, afirmou.
“A igualdade é uma afirmação política. Temos que fugir da cultura do privilégio, que naturaliza as desigualdades e faz as pessoas acreditarem que elas não são iguais. Precisamos de um novo pacto social, um novo Estado de Bem-Estar Social que consagre a proteção social universal, com acesso a sistemas de saúde de qualidade e a reconstrução com igualdade e sustentabilidade”, afirmou Bárcena.
A secretária-executiva da CEPAL também enfatizou que a pandemia está afetando fortemente os grupos mais vulneráveis, especialmente os mais pobres da região.
Segundo os cálculos da CEPAL, em 2020 a pobreza na América Latina e no Caribe aumentará pelo menos 4,4 pontos percentuais (28,7 milhões de pessoas) em comparação com o ano anterior, o que levará o número total de pessoas que vivem na pobreza para 214,7 milhões (34,7% da população regional). Além disso, devido à contração estimada da economia de 5,3%, espera-se um aumento de quase 12 milhões de desempregados.
Além disso, a América Latina e o Caribe é considerada uma região de renda média, mas não possui uma classe média forte. Grandes setores vivem em insegurança financeira crônica e são muito vulneráveis à perda de renda do trabalho, enfatizou.
“A região não deve retornar ao seu modelo de desenvolvimento anterior. É necessário adotar um novo grupo de políticas articuladas que incluam um grande impulso ambiental em três dimensões: social (com igualdade), econômica (com aprendizado tecnológico e transformação produtiva) e ambiental (com proteção do meio ambiente para as gerações atuais e futuras)”, disse Bárcena.
Durante sua participação, a alta funcionária das Nações Unidas também citou ações globais para obter uma vacina contra o coronavírus e como ela poderia ser financiada.
A esse respeito, explicou que os esforços coordenados em todo o mundo para atingir esse objetivo são essenciais e lembrou que o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, indicou que uma vacina deve ser tratada como um bem público global disponível a todos. “Todos, sem exceção, em todo lugar, devem ter acesso a uma eventual imunização contra a COVID-19”, disse Bárcena.
No evento, Bárcena também destacou as oportunidades oferecidas pela pandemia aos governos para construir um futuro mais sustentável, com empregos.
Nesse sentido, destacou as possibilidades de criação de empregos oferecidas pelo setor de energias renováveis, bem como o setor de economia do cuidado – que cresceu substancialmente devido à atual crise da saúde – e a construção de infraestrutura para promover novas formas de mobilidade, entre outros exemplos.
“Existe uma grande oportunidade após a COVID-19, pois ela nos mostrou as lacunas estruturais em nossa região. É por isso que é tão importante reconstruir melhor e garantir que exista um Estado social, não autoritário. Deve haver um futuro com empregos, com trabalho com direitos. É isso que estamos buscando”, afirmou.