Quando Begoña Herrero se ofereceu para ajudar uma família de refugiados a se estabelecer em sua cidade natal, no norte da Espanha, ela não esperava que isso também mudasse sua própria vida para melhor.
Aos 78 anos, ela era aposentada do emprego de enfermeira auxiliar e morava com a irmã em um apartamento.
A família de refugiados sírios – Minwer, sua esposa Wafaa e seus filhos Adnan, Sidra, Mashael e Sham – havia chegado da Jordânia em abril do ano passado e se mudado para a vizinhança. Begoña começou a trabalhar como parte de uma equipe de voluntários locais e logo se envolveu no dia a dia dos recém-chegados.
Ela frequentava a casa da família, cuidava das crianças enquanto os pais aprendiam espanhol e os ajudava a descobrir a cidade. O que começou como trabalho voluntário rapidamente se tornou amizade.
“As pessoas me perguntam: ‘o que você está fazendo consigo mesma ao ajudar essas pessoas?’ E eu digo: ‘o correto seria: o que elas estão fazendo por mim?’ Elas mudam você e te ajudam a pensar de uma maneira diferente”, disse Begoña.
Begoña é patrocinadora de um programa-piloto de patrocínio comunitário que visa prestar assistência a cinco famílias de refugiados instaladas no País Basco, uma comunidade autônoma no norte da Espanha.
O projeto é apoiado pela Caritas e pela Fundação Ellacuría. As famílias recebem ajuda para chegar às aulas de idiomas e ao médico, levar as crianças à escola e conhecer seus vizinhos. O objetivo é dar a eles um senso de comunidade.
“Ficamos muito surpresos quando chegamos e vimos as boas-vindas que eles nos deram”, disse Minwer.
Os programas de patrocínio comunitário se fixaram em outros países europeus, mas o da região basca é o primeiro desse tipo na Espanha. É uma colaboração entre grupos da sociedade civil, governos centrais e regionais e a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).
Karmele Villarroel, da Fundação Ellacuría, que fornece apoio técnico aos patrocinadores, diz que boas relações entre a família e o bairro são cruciais para que mais comunidades implementem o programa.
“A família está indo bem no bairro e isso significa que outras famílias que têm esse apoio de patrocinadores ao seu redor já terão uma experiência com a qual de identificar”, disse Karmele.
A região basca enfrentou a dura realidade da guerra civil espanhola de 1936 a 1939, assim como muitas outras regiões. A barbárie do conflito foi imortalizada em Guernica, de Pablo Picasso, quadro pintado em maio de 1937, logo após o bombardeio da pequena cidade basca com esse nome. A pintura ajudou a sensibilizar as pessoas para a importância de receber aqueles que fugiram da guerra, disse Villarroel.
A experiência da família de Minwer e Wafaa mostra como a guerra pode separar uma família. É um lembrete sério do que alguns refugiados sofrem, mas também mostra como ser bem-vindo pode significar um novo começo.
Antes do início da guerra, Minwer, de 36 anos, e Wafaa, de 34, moravam com seus quatro filhos na cidade de Homs. Ele trabalhou como operário e depois como confeiteiro.
A vida da família mudou em setembro de 2011, durante um protesto de rua, uma granada atingiu um quarto no andar de cima da casa onde moravam. Seu filho de 3 anos foi morto e sua filha bebê ficou gravemente ferida e morreu pouco depois. A família fugiu, temendo por sua vida.
O que se seguiu foi um período sombrio, com a família lutando contra a insegurança, fome, pobreza, ferimentos e, acima de tudo, tristeza. “Eu vivia com medo. Estava com medo de dormir à noite. Dois anos pareceram cem”, disse Minwer.
Eventualmente, eles cruzaram a fronteira rumo à Jordânia. Quando os funcionários do ACNUR viram o estado em que estavam, imediatamente os enviaram ao hospital. Por três anos, eles viveram no campo de Za’atari e depois em um apartamento na cidade de Mafraq, com mais assistência do ACNUR. No ano passado, foram informados sobre a possibilidade de se mudar para a Espanha.
O reassentamento é crucial para refugiados que não encontram segurança ou estabilidade no país para o qual fugiram originalmente. Na prática, no entanto, o reassentamento é raro e depende da generosidade dos países anfitriões.
Minwer disse que as boas-vindas em Bilbao foram mais do que ele esperava. Seus filhos mais velhos se juntaram a um grupo local de escoteiros, e o bairro agora parece uma comunidade.
“Houve uma grande ferida e muita dor”, disse. “Essa dor não pode ser esquecida, mas há pessoas que nos ajudam a esquecer essa dor, por meio de suas ações e apoio à nossa integração. Por isso, quando conheci o grupo, senti que tinha outra família na Espanha.”
Através dos voluntários, as crianças estão recomeçando. Já falam espanhol e estão aprendendo basco. Eles ainda têm o que parece ser uma nova família.
Quando Begoña chega ao apartamento, eles as crianças a chamam de “avó”.