Skip links

De borboleta em borboleta: conservando a floresta e gerando renda no Quênia

Fonte https://nacoesunidas.org/de-borboleta-em-borboleta-conservando-a-floresta-e-gerando-renda-no-quenia/

Clique para exibir o slide.

Era uma vez uma floresta tropical que se estendia da Somália a Moçambique. Hoje, não restou muito dela. No Quênia, permanecem apenas 42.000 hectares na costa, a chamada Floresta Arabuko Sokoke.

“Arabuko Sokoke tem uma rica biodiversidade, com mais de 600 espécies de árvores, 250 de pássaros, como o tecelão de Clarke, 230 de mamíferos e espécies de insetos, incluindo mais de 230 borboletas”, diz Elvis Katana Fondo, assistente de conservação do ecossistema para o Serviço Florestal do Quênia, em Kilifi.

“Além de um rico ecossistema terrestre, (a floresta) também tem um ecossistema marinho exclusivo, com mais de 8 mil hectares de manguezais. É isso que torna essa floresta tão especial e um patrimônio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).”

Para preservar esse ecossistema único, o Serviço Florestal do Quênia decidiu trabalhar com as comunidades locais, em conformidade com a Lei Florestal de 2005, segundo a qual as populações cujo sustento depende da floresta devem ser incluídas em todas as decisões relevantes.

O Programa UN-REDD, por meio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), introduziu regras de consentimento livre, prévio e informado que estabelecem uma série de diretrizes sobre como isso deve acontecer.

Na prática, significa que as pessoas que vivem a até 5 quilômetros da floresta precisam se organizar em Associações Comunitárias da Floresta, permitindo que o Serviço Florestal do Quênia trabalhe com elas e lhes conceda direitos para coletar lenha, água e medicamentos fitoterápicos a até um 1 km do perímetro florestal. Arabuko Sokoke foi um dos primeiros lugares no Quênia onde o manejo participativo foi realizado.

Uma das três associações florestais comunitárias em Arabuko tem 1,5 mil membros, dos quais 85% são mulheres. Segundo seu presidente, Charo Ngumbao, entre os membros estão pessoas que trabalham com ecoturismo e observação de pássaros.

Outros grupos estão envolvidos com apicultura, plantio de árvores e viveiros; outros agem como vigias comunitários para ajudar os guias florestais e, por último, mas não menos importante, há um grupo de mulheres envolvidas na criação de borboletas.

A criação de borboletas foi introduzida em Arabuko Sokoke em 1993 como um projeto da comunidade local para gerar renda, a fim de melhorar a conservação dos recursos florestais ameaçados pela exploração excessiva.

Jan Godon, ex-chefe da Nature Kenya, estabeleceu a exportação de pupas de borboleta (casulos) para Stratford-upon-Avon no Reino Unido e recentemente foram adicionados novos mercados, incluindo Estados Unidos, Turquia e Dubai. Há remessas semanais e o preço varia de 0,50 dólar a quase 2 dólares por borboleta.

“As borboletas, chamadas de ‘kipepeo’ em suaíli, saem do casulo na chegada ao seu destino e são usadas para cerimônias de casamento, exposições e têm colecionadores. Sua vida útil muito curta (até dez dias) faz com que seja uma exportação delicada”, diz Emily Katana, uma criadora de borboletas.

Cada espécie de borboleta tem seu próprio valor, dependendo de sua cor, de seu desenho e da dificuldade da reprodução, e cada espécie se reproduz em uma árvore específica. Manter a floresta saudável é, portanto, essencial para a sobrevivência das borboletas.

“Chegamos à conclusão de que não queremos que a floresta seja desmatada (…). É o nosso tesouro e fonte de renda”, afirma.

A criação de borboletas tem seus desafios. “Somos treinados para capturá-las a partir das 9h usando bananas e mangas colocadas dentro das armadilhas da floresta. À noite, retornamos para remover aquelas que estão presas e levá-las para nossos criadouros, onde as alimentamos até que depositem seus ovos, que depois tornam-se lagartas”.

“As lagartas comem folhas até alcançarem o estado de pupas, quando fazem seus casulos. É nesse ponto que as vendemos antes que se transformem em borboletas”, diz Katana.

Katana e outras criadoras vendem as pupas para a Kipepeo Butterflies House (KBH), uma empresa que compra e vende borboletas para o mercado internacional. “É um produto frágil, mas paga a escola de nossos filhos, suas roupas e até mesas para as escolas locais”, diz Chenola Tabou, outro membro do grupo de criação de borboletas.

O projeto Kipepeo começou com um fundo inicial de 50 mil dólares fornecido pelo Global Environment Facility e pelo PNUD, mas hoje tem uma receita anual de cerca de 100 mil dólares. “Pagamos semanalmente os agricultores com base no que chegou aos clientes em boas condições”, diz o gerente de projeto, Hussein Adulai.

“Como é um produto frágil, não há garantia de pagamento. Mas, ainda assim, o negócio cresce desde 2016, apesar da concorrência com Costa Rica, Nepal e Filipinas. Agora somos autossustentáveis e 870 pessoas vivem disso.”

“O fim da pobreza deve ser acompanhado de estratégias que melhoram a saúde e a educação e incentivem o crescimento econômico, de maneira ambientalmente sustentável. Ajudar a fornecer meios de subsistência alternativos para as comunidades que vivem perto das florestas pode não apenas reduzir a pobreza, mas também ajudar a conservá-las e a combater as mudanças climáticas”, diz Judith Walcott, do Centro de Monitoramento da Conservação Mundial do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), em nome do Programa UN-REDD.

Leave a comment

Este site utiliza cookies para incrementar sua experiência.
Explorar
Puxar