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Holandês nascido na atual Bélgica e de formação francesa, Kinsbergen foi um pequeno polímata da Indonésia colonial
Filho de mãe flamenga e pai holandês, Isidore van Kinsbergen nasceu em 3 de setembro de 1821 na cidade de Bruges (atualmente na Bélgica). Por volta dos 20 anos, ele começou a trabalhar como gravurista em Ghent, onde estudou num conservatório artístico francês. Dez anos mais tarde, ele foi nomeado cenógrafo do Théâtre Français de Batavia — Batavia era a capital das Índias Orientais Holandesas, atual Jacarta, Indonésia. Ao chegar na capital indonésia, ele se apresentava como artista, litógrafo, cenógrafo e até cantor de ópera. Essa versatilidade era necessária para sobreviver como artista naquela pequena comunidade colonial. Logo, não foi surpresa quando Kinsbergen passou a se interessar por fotografia e atuar como fotógrafo.
Não se sabe exatamente como e onde Kinsbergen recebeu instrução fotográfica, mas é possível que ele tenha se formado por influência de seus conhecidos em Paris, onde passou alguns meses em 1854. Sua experiência como litógrafo e pintor de cenários deve ter sido outro fator facilitador. Seja como for, ele voltou fotógrafo e abriu um estúdio em Batavia em 1855. No estúdio, suas influências teatrais revelavam-se no modo como posava seus modelos. Para Kinsbergen, cada pessoa que aparecia ali era uma oportunidade de fazer experimentos com poses e expressões. Mais do que curiosidades etnográficas, seus modelos javaneses eram objetos de estudos artísticos. No entanto, o fotógrafo neerlandês também estava interessado no que havia fora de seu estúdio.
Van Kinsbergen sentiu-se estimulado pelas possibilidades oferecidas pelas paisagens e antiguidades das Índias Orientais Holandesas. Numa iniciativa pioneira, o governo colonial da Indonésia havia encomendado uma série de fotografias dos templos e monumentos do país já em 1844 — mas a empreitada foi abandonada, provavelmente por insuficiência técnica e financeira. Kinsbergen soube disso no começo dos anos 1860 e buscou retomar esse trabalho de documentação fotográfica. Embora trabalhasse nisso de maneira esporádica — pois além do estúdio, Kinsbergen nunca abandonou a vida teatral —, foi o bastante para que chamasse a atenção das autoridades.
Assim, no fim de 1862, depois de sua participação bem-sucedida como fotógrafo de uma missão diplomática ao Sião, a Sociedade Batava de Artes e Ciências fez um contrato exclusivo com Van Kinsbergen, com o objetivo de fotografar as antiguidades hindus e budistas em Java. Entre 1863 e 1867, o fotógrafo viajou pelo país e acumulou mais de 300 imagens, que seriam publicadas no portfólio chamado simplesmente de Antiguidades de Java. A obra era organizada cronológica e geograficamente: começava pelas primeiras fotos que ele fez, em Bogor, na Java Ocidental, e terminava com o complexo de Panataran, na Java Oriental.
Para mostrar os relevos ricamente decorados dos monumentos que encontrava, Kinsbergen fotografava de modo meio dramático. Os edifícios, estátuas e artefatos tomavam quase todo o seu enquadramento e a iluminação destacava-se pelo grande contraste entre luz e sombra — muitas vezes obtido por pequenas alterações no negativo.
Com o fim dessa série, Kinsbergen ganhou reputação nacional como fotógrafo e seu estúdio passou a receber encomendas bastante diversificadas: imagens topográficas, retratos, naturezas-mortas e até nus. Mais tarde, em 1873, o estúdio foi novamente contratado pelas autoridades coloniais, dessa vez para fotografar Borobudur, um complexo de templos budistas. Ali, Kinsbergen registrou vários tipos de budas, em imagens que cruzaram os mares e tiveram repercussão até na Europa, que vivia uma febre orientalista. Para muitos europeus, aquelas fotos seriam o primeiro contato com a arte budista e com o próprio budismo.
Além dos budas e dos monumentos, Kinsbergen também foi pioneiro em fotografar os soberanos e membros das cortes de reinos locais, como Yogyakarta, Surakarta e Bali, entre 1862 e 1865. Suas obras foram apresentadas nas Exposições Mundiais de Viena (1873), Paris (1878) e Amsterdã (1883). Depois dos anos 1880, sua produção fotográfica parece ter sido deixada de lado e ele teria se dedicado apenas às produções teatrais. Isidore van Kinsbergen faleceu em Batavia, aos 84 anos, em 10 de setembro de 1905.
Atualmente, suas obras fazem parte do acervo de diversas instituições, como o Ministério da Cultura e Turismo da Indonésia; o Tropenmuseum e o Rijksmuseum, em Amsterdã; os Arquivos Reais de Haia; a Biblioteca Britânica; a Biblioteca Nacional da França e as Sociedades Asiática e Geográfica de Paris. Quase 600 fotos pertencem ao Real Instituto Holandês de Estudos Sul-Asiáticos e Caribenhos (KITLV, na sigla holandesa), ligado à Universidade de Leuven. A coleção KITLV foi digitalizada e está disponível na Wikimídia.