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Não se iluda com o novo capítulo da Vaza Jato: Deltan e Bolsonaro são irmãos siameses. Por Joaquim de Carvalho

Deltan Dallagnol e Jair Bolsonaro. Foto: Wikimedia Commons

Novos vazamentos da Vaza Jato publicados pelo UOL podem dar a falsa impressão de que Deltan Dallagnol e seus colegas de Curitiba não têm responsabilidade pela ascensão de Jair Bolsonaro.

É importante que fique claro: não houvesse Lava Jato, não haveria Bolsonaro.

Nos vazamentos, Deltan Dallagnol aparece numa troca de diálogos em que é aconselhado a não comparecer a um evento em São Paulo no qual receberia homenagem.

No jantar, estaria presente Bolsonaro, que era deputado federal, e outros “radicais de direita”. Por essa razão, Dallagnol desistiu de comparecer na última hora e enviou um representante, o promotor paulista Roberto Livianu.

Era outubro de 2016, quando Bolsonaro já estava em campanha, mas era visto como uma aberração sem viabilidade eleitoral.

Uma pesquisa de intenção de voto divulgada três meses antes mostrava que Lula estava na liderança, com 22 pontos, seguido de Marina, com 17, e de Aécio Neves, com 14.

O então deputado federal Bolsonaro aparecia com apenas 7 pontos.

Com Lula fora da disputa, em razão da condenação proposta pela Lava Jato, Bolsonaro ganhou espaço.

Com Aécio Neves também abatido, abriu-se uma avenida para o candidato de extrema direita.

À medida que a eleição de 2018 se aproximou, a Lava Jato assumiu feições bolsonaristas.

Em julho do ano passado, começou a atuar decisivamente para evitar que Lula desse entrevista, mesmo preso.

Diálogos já vazados mostram o pavor dos procuradores quando, em setembro de 2018, o ministro Ricardo Lewandowski, do STF, autorizou Lula a falar com a imprensa.

Eles se movimentaram para evitar que o ex-presidente desse entrevista antes das eleições.

Quem se beneficiaria com esse trabalho de bastidores para interferir no jogo político?

Bolsonaro, claro.

Na época, havia dois postulantes em condição de ir para o segundo turno: o candidato de Lula, Haddad, e o representante da extrema direita.

Era com este que a Lava Jato, àquela altura, estava fechada. Do contrário, que diferença faria se Lula desse entrevista?

O desfecho é sabido: com a eleição de Bolsonaro, o líder dessa, digamos assim, organização política, Sergio Moro, deixaria a toga e se tornaria ministro.

De início, como mostram diálogos agora vazados, Deltan Dallagnol e parceiros podiam ter mesmo resistência a um candidato que defendia abertamente a tortura.

Mas, com a disputa afunilada, restou para eles Bolsonaro, o plano B da elite e de seus lacaios.

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