RIO – A
casa
onde moram a jovem Raiane Silva Jardim, de 21 anos, e o pequeno Nicolas, de 3, soterrados após um
desabamento
na Vila Sapê, em
Curicica
, Zona Oeste, foi construída há cerca de três anos pelo pai da jovem, o profissional autônomo Uildes Alves Martins, de 41 anos. Nela, moravam sete pessoas da mesma família. No momento em que a construção caiu, por volta de 6h30, ele estava em casa e tentou fazer o resgate até a chegada das equipes do Corpo de Bombeiros:
— Eu estava dentro de casa e tentei tirar a minha filha e o meu neto de lá, antes das equipes de resgate chegarem. Abri um buraco na parede para que eles pudessem sair. Eu queria minha família toda próxima a mim. Por isso, construímos essa casa para que todos nós morássemos juntos — afirma Uildes, que acompanhou de perto toda a ação.
LEIA
:
Bombeiros resgatam mãe e filho de prédio que desabou em Curicica
Segundo Uildes, que veio da Bahia para o Rio há cerca de 15 anos, no momento do desabamento estavam seis pessoas na casa: ele, a esposa, o irmão mais novo e a filha mais velha, além de Raiane e Nicolas. A casa tinha quatro andares: uma garagem no térro, dois pavimentos onde residia a família e um terraço. Os parentes e amigos contam que viveram momentos de pânico nesta segunda-feira.
— Ela (Raiane) me chamou, dizendo que o Nicolas não queria acordar e ir à escola. Aí, ela voltou e eu deitei para assistir televisão ao lado da minha mulher. Logo depois, desceu tudo muito rápido, não teve estalo ou qualquer outro sinal que indicasse que a casa ia desabar. Eu desmaiei e acordei com os vizinhos ao meu redor. Ainda fui buscar minhas ferramentas para ajudar a tirar os escombros de cima deles, mas elas estavam soterradas também — conta Uildes, muito abalado.
O aposentado Antônio Alves Martins, de 62 anos, morava no segundo andar da casa que desabou. Ele é avô de Raiane, que foi socorrida por volta das 10h25 desta quarta-feira. No momento do acidente, o idoso não estava em casa. Ele passou a noite na casa da irmã, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio. Segundo Antônio, a família teve algumas dificuldades técnicas na construção, devido ao terreno:
— Moro aqui há três anos. Passa um rio aqui atrás, o terreno sempre foi aguado. Estamos sem casa, sem saber como vamos ficar. Comprei um fogão e um armário novos, estávamos arrumando a minha casa, perdemos tudo. É complicado, mas temos fé que tudo vai ficar bem, se Deus quiser. Eu sei que vai ser complicado reconstruir tudo — conta Antônio, que morava com o filho mais novo na casa que desabou.
De acordo com a avó de Nícolas, Adriane Cristina, ex-sogra de Raiane, a jovem teve um ferimento na bacia e está fora de perigo. O menino teve ferimentos leves pois ficou soterrado entre a laje e um colchão. Segundo amigos da família, Raiane trabalha numa lanchonete.
— Eu não tenho nem palavras. Só posso agradecer a Deus e aos bombeiros que ajudaram a tirar o meu neto de lá — disse Adriane, bastante emocionada, na porta do Hospital municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, para onde foram levados a ex-nora e o neto.
Um áudio compartilhado nas redes sociaisi revela o desespero de Raiane ao pedir socorro para ela e para o filho, soterrados em casa:
O desabamento ocorreu às 6h30. Bombeiros foram acionados às 6h43, informou o comandante Rodrigo Bastos, chefe do Grupamento de Busca e Salvamento. De acordo com ele, balões de oxigênio foram colocados dentro da casa para ajudar a respiração das vítimas. Desde o início da operação, os bombeiros estavam se guiando por meio de barulhos e ruídos emitidos pela vítima, para facilitar o resgate.
As equipes comemoraram após mãe e filho serem retirados dos escombros
, por volta de 10h40. Os agentes — que passaram cerca de quatro horas e meia tentando retirar Raiane e Nicolas — se abraçaram, emocionados. Ao redor, moradores e familiares que acompanhavam a operação de resgate apaludiram a atuação dos militares.
As paredes da casa ficaram com grandes rachaduras após o desabamento. Além disso, imóveis que ficam ao redor também correm risco. Sérgio Gomes, coordenador de operações da Defesa Civil, contou que cinco imóveis deverão ser demolidos: o que desabou, o lateral, onde a casa de Raiane está escorada, e outros dois de madeira.
Em nota, a Defesa Civil informa que “o caso foi encaminhado para a Secretaria de Conservação, para posterior demolição”. O texto aponta ainda que os imóveis que estão nas laterais também foram isolados preventivamente. Ao todo, dez pessoas da Defesa Civil atuam na região. Equipes da PM e da Guarda Municipal participaram da ação.
O imóvel fica às margens do Rio Guerenguê, na Rua Cordeiro do Rio. A região da Vila Sapê é uma região conhecidamente dominada pela milícia. No local, há dezenas de construções em situação de risco, feitas de forma irregular. Segundo moradores, sempre que chove, o rio transborda e causa alagamento nas residências. Muitos reclamam do assoreamento do curso d’água. Em alguns imóveis, não há saneamento básico. Outras são sustentadas por latas de ferro empilhadas.
Imóveis interditados
A Defesa Civil do município informou em nota que as equipes interditaram cinco imóveis no local onde a casa desmoronou, na Vila Sapê. A edificação que desabou passou por vistorias, assim como outras quatro casas que ficam no entorno. O caso foi encaminhado para a Secretaria de Conservação, para posterior demolição.
Os imóveis que estão nas laterais também foram isolados preventivamente. Ao todo, 10 pessoas da Defesa Civil atuam na região nesta segunda-feira.