O brasileiro Lucas Nascimento é assistente sênior de soluções duradouras da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) em Manaus (AM). Diariamente, ele trabalha para garantir que refugiados encontrem caminhos para reconstruir suas vidas.
Leia a entrevista:
Por que você se tornou um trabalhador humanitário?
Sempre me identifiquei com o trabalho social, então fui desenhando minha trajetória profissional em prol da defesa e garantia de direitos. O trabalho humanitário envolve muita dedicação profissional e pessoal, pois deve ser movido pelo profissionalismo e pela esperança de um mundo melhor, mais justo e igualitário.
Com o que você trabalha hoje? Como é o seu dia a dia?
O meu trabalho no ACNUR envolve encontrar soluções duradouras para os refugiados, com o objetivo de atender às suas necessidades básicas e buscar estratégias que garantam a dignidade humana, visando a integração com a comunidade local.
Minha atuação é muito focada no fortalecimento da rede de atores envolvidos na resposta de emergência aos refugiados. Diariamente, presto apoio individual e coletivo aos refugiados e também busco soluções com a rede de parceiros local, visando a inserção social, econômica e cultural das pessoas que foram forçadas a deixar suas casas.
Antes de me juntar ao ACNUR, atuei em uma Organização da Sociedade Civil em Caxias do Sul-RS, que também trabalhava para garantir a proteção de refugiados e apoiar sua integração social.
Como é a operação do ACNUR em Manaus?
Em Manaus, o trabalho do ACNUR é dividido em duas partes. Trabalhamos para atender diretamente aos refugiados e garantir sua proteção e acesso aos direitos fundamentais e apoiamos o estado, município e sociedade civil para fortalecer a resposta da Operação.
O trabalho do ACNUR Manaus tem um grande impacto na vida dos refugiados, pois assegura eles tenham acesso aos direitos básicos como alimentação, saúde e moradia e apoio para que se integrem social, econômica e culturalmente.
Qual é a parte mais gratificante do seu trabalho?
O mais gratificante é ver e sentir diariamente o impacto positivo das ações na vida das pessoas. Com acesso aos seus direitos fundamentais, os refugiados resgatam sua dignidade e encontram um ambiente de acolhida e proteção. Fazer parte de uma rede de pessoas totalmente dedicadas ao trabalho humanitário torna-o ainda mais gratificante.
Qual a parte mais desafiadora?
O mais difícil é escutar relatos de diferentes pessoas carregados de dificuldades e violações de direitos humanos. Tenho sempre em mente que o meu papel enquanto trabalhador humanitário é construir através das dificuldades o caminho para as soluções.
Qual foi o seu melhor dia de trabalho?
O dia mais memorável foi quando realizamos, durante a madrugada, uma ação para acolher e abrigar pessoas que estavam em situação de rua. No início da manhã, uma chuva muito forte alagou a cidade. Agimos no momento certo. Se a ação não tivesse acontecido naquele dia e horário, muitas pessoas teriam ficado em uma situação de risco, expostas à chuva e possivelmente teriam perdido as poucas coisas que levavam consigo.
Algum episódio em especial te marcou?
Vivi um episódio em 2018 que me marcou muito. Na época, Manaus recebia venezuelanos interiorizados pela Operação Acolhida. Acompanhei a chegada de muitas pessoas, todas com a esperança de começar uma nova vida.
Uma delas havia passado por diversas situações de violência e via em Manaus a chance de recomeçar. Durante o deslocamento para o abrigo, esta pessoa pediu ajuda para superar o que estava passando, pois queria sentir segurança outra vez, ter uma vida normal. Foram meses de acompanhamento pela equipe de Manaus e pelos parceiros do ACNUR. Depois de superar muitas barreiras, de fato ela começou uma nova história. Sempre que nos reencontrávamos, um sonho havia sido alcançado. Na última vez, vi ali muito mais do que um sorriso no rosto. Vi o recomeço de uma história.
São momentos como esse que mostram a importância da interiorização e do apoio emergencial prestado pelo ACNUR e parceiros nas cidades que acolhem refugiados e migrantes.