Fonte https://www.huffpostbrasil.com/entry/feder-recusa-convite-mec_br_5f021b26c5b6ca97092013fd
Secretário de Educação do Paraná, Renato Feder anunciou neste domingo (5) que recusou o convite do presidente Jair Bolsonaro para assumir o comando o Ministério da Educação. A decisão ocorre depois de Bolsonaro ter feito o convite, mas ter avisado a aliados que estaria procurando outro nome.
O Planalto confirmou à imprensa que o convite havia sido feito e que Feder teria dito “sim”. No entanto, após a imprensa noticiar Feder como novo ministro, o presidente passou a sofrer pressão de vários lados. Até mesmo a bancada evangélica mandou avisar que não aceitava o indicado ao ministério.
A ala ideológica foi uma das mais pressionou contra o indicado. O grupo que manteve o controle do ministério até a queda de Abraham Weintraub torce por alguém que seja ideologicamente alinhado aos seus princípios e que tenha o aval de Olavo de Carvalho.
Os bolsonaristas encontraram inconsistências no currículo de Feder. A Secretaria de Educação do Paraná o apresenta como mestre, o empresário, no entanto, segundo o currículo lattes, está com o mestrado em andamento desde 2002.
A ala militar também não havia gostado da escolha e batia na tecla das falhas no currículo. Foram erros no currículo que levaram à demissão de Carlos Alberto Decotelli. Ele ficou no cargo apenas 5 dias e nem chegou a tomar posse.
Havia também a queixa de que Feder era próximo ao PSDB. Ele chegou a trabalhar alguns meses para a Secretaria de Educação de São Paulo no governo de Geraldo Alckmin e fez doações para campanha de João Doria em 2016. Herdeiro do grupo Elgin, Feder é sócio da Multilaser.
Alvo desse intenso processo de fritura ao longo do fim de semana, Feder preferiu desistir do cargo e permanecer no Paraná. Essa é a segunda vez que ele quase pisa na Esplanada de Bolsonaro. Antes da oficialização de Decotelli, o empresário também chegou a ser o preferido para assumir o cargo, mas teve seu nome preterido.
Desafio
O próximo ministro da Educação terá uma lista de desafios pela frente. Além de traças diretrizes para o retorno das aulas em meio à pandemia, ele terá que retomar a credibilidade da pasta. Especialistas ouvidos pelo HuffPost afirmam que a desconfiança que gira em torno do ministério será o maior empecilho para o próximo chefe da pasta.
A gestão de Abraham Weintraub, o ministro mais longevo no MEC do governo Bolsonaro, deixou sequelas. Só no Ensino Superior, o ex-ministro tentou interferir na autonomia das universidades, disse que bloquearia recursos de instituições que promovessem “balbúrdia”, cortou bolsas, além de ter ridicularizado a área de humanas. Em relação ao Enem, que é o maior vestibular do País, chegou a dizer que a prova do ano passado, que esteve sob seu comando, tinha sido “o melhor Enem de todos os tempos”. No entanto, houve erros, a pasta demorou a reconhecer e pelo menos 6 mil estudantes foram prejudicados.
Junto com os erros de português, a gestão de Weintraub ficou conhecida pela ironia. E foi por esse jeito escrachado que ele teve que deixar o governo. A pressão contra ele aumentou depois que se tornou pública a reunião ministerial de 22 de abril em que ele chama os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) de “vagabundos” e diz que, se pudesse, mandaria todos para prisão. No mesmo mês que fez essa afirmação, o Weintraub já estava envolvido em outro capítulo que agressão que também fugia das fronteiras do MEC. Em tom racista, ele insinuou que a China sairá “fortalecida” com a pandemia de coronavírus.
O novo ministro terá que lidar com as sequelas que essas ocorrências deixaram no ministério. “Há uma crise de confiança por parte dos atores no governo e o primeiro passo é restabelecer algum diálogo que seja civilizado e que não tenha como base somente agressões gratuitas”, define o especialista em educação do Instituto Expert Brasil Afonso Galvão.
Bolsonaro está ciente dos problemas. O presidente tem evitado embarcar nos conselhos da ala ideológica, mas não consegue ignorá-los completamente. Ele chegou a cogitar o reitor do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), Anderson Ribeiro Correia, para o posto, mas desistiu depois de Correia dizer que só assumiria o posto se pudesse demitir os olavistas. O presidente procura um nome que agrade ao Congresso e as alas militar e ideológica. Enquanto não encontra esse nome, o governo segue sem chefe no MEC.