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Três anos após a explosão do #MeToo, Harvey Weinstein vai a julgamento

Fonte https://www.huffpostbrasil.com/entry/harvey-weinstein-julgamento_br_5e139c58e4b0b2520d263346

O ex-magnata do entretenimento, Harvey Weinstein, pálido e abatido, na saída da Suprema Corte de Manhattan, em Nova York, nos Estados Unidos. 

De terno preto, com um semblante abatido e usando andador. Foi assim que Harvey Weinstein, de 67 anos, o outrora produtor aclamado de Hollywood hoje acusado de agredir sexualmente mais de 80 mulheres, chegou a um tribunal em Nova York, nos Estados Unidos. Nesta segunda-feira (6), tem início seu julgamento por agressões sexuais, um capítulo central para o #MeToo

O julgamento acontecerá mais de dois anos após a explosão do escândalo que resultou no movimento de mulheres entitulado #MeToo (Eu também, em tradução para o português). Denúncias expuseram dezenas de crimes sexuais não só de Weinstein, mas de outros poderosos e mudou a forma como o assédio é entendido no universo do entretenimento ― e no mundo do trabalho.

À época, mais de 80 mulheres, incluindo atrizes consagradas como Angelina Jolie, Mira Sorvino, Asia Argento e Gwyneth Paltrow, denunciaram o ex-produtor por assédio, agressão sexual, e estupro. O caso veio à tona em outubro de 2017 quando reportagens publicadas no jornal “The New York Times” e na revista “The New Yorker”, denunciaram o escândalo sexual.

Harvey Weinstein, de 67 anos, é escoltado por seguranças e amparado por advogados e colegas ao sair de primeiro dia de julgamento, em Nova York.

Mesmo com a gravidade e proporção do caso, Weinstein será julgado apenas por dois casos mais recentes ― considerando que os demais crimes, cometidos entre os anos 80 e 90, já prescreveram.

Mimi Haleyi, ex-assistente de produção de Weinstein, alega que, em julho de 2006, o fundador da Miramax fez sexo oral nela sem seu consentimento. A segunda vítima, que não teve sua identidade revelada, alega que, em março de 2013, foi estuprada pelo ex-produtor em um quarto de hotel em Nova York. 

Inicialmente, o julgamento estava previsto para setembro de 2019, mas foi adiado após Annabella Sciorra, atriz da série Família Soprano, da HBO, entrar como testemunha no caso. Em artigo publicado na New Yorker, Sciorra acusa Weinstein de tê-la estuprado em sua própria casa, no ano de 1993.

Segundo informações das agências internacionais, a audiência desta segunda-feira durou cerca de uma 1h15 e definiu aspectos práticos do julgamento. A primeira delas é a seleção do júri, que começará nesta terça-feira (7) e poderá durar até duas semanas. Em seguida, depoimentos serão ouvidos e deliberações serão feitas, o que pode demorar cerca de seis a oito semanas. Caso for condenado, Weinstein poderá pegar prisão perpétua.

No dia do julgamento, novas vítimas aparecem

Segundo a Reuters, também nesta segunda, Weinstein foi acusado de abusar sexualmente de outras duas mulheres no ano de 2014, na cidade de Los Angeles. As vítimas não tiveram suas identidades reveladas.

O produtor teria entrado sem permissão no quarto de ambas, em um hotel em Beverly Hills, e cometido abusos sexuais contra elas ― padrão já observado em outras denúncias. Usando apenas um roupão, o então magnata de Hollywood convidava as atrizes para falar sobre o roteiro de filmes em um quarto de hotel e cometia os abusos. Weinstein nega todas as acusações.

“Acreditamos que as evidências irão mostrar que o réu usou de seu poder e influência para conseguir acesso às vítimas e assim cometer crimes violentos contra elas”, disse a procuradora distrital Jackie Lacey à Reuters. 

Weinstein pode pegar até 28 anos de prisão na Califórnia se for condenado pelas acusações, completou Lacey. Outros três casos estão sendo considerados, acrescentou a advogada à agência internacional.

Donna Rotunno, chefe da defesa de Weinstein, se recusou a comentar as novas acusações, dizendo que precisava de mais informações. Porta-voz de Weinstein, Juda Engelmayer, também se recusou a comentar a questão.

“Escutem as sobreviventes”

A Rose McGowan em discurso durante protesto na frente da Suprema Corte de Manhattan, em Nova York, nos Estados Unidos.

Do lado de fora do tribunal, cerca de 15 mulheres que denunciaram Weinstein, incluindo as atrizes Roseanna Arquette e Rose McGowan, protestaram vestidas de vermelho e segurando cartazes que pediam “justiça para as sobreviventes”.

“O tempo acabou. O tempo do assédio sexual no trabalho, o tempo de culpar as vítimas, o tempo de desculpas vazias sem consequências e da ampla cultura do silêncio que permitiu que agressores como Weinstein agissem acabou”, disse Arquette, segundo a Reuters, nesta segunda.

“Espero que [Weinstein] fique preso até o fim de seus dias”, disse à AFP outra manifestante, Sarah Ann Masse, que afirmou ter sido agredida pelo ex-produtor em 2008 quando ele a entrevistou para o cargo de babá de seus filhos.

Além de Weinstein, os julgamentos de Bill Cosby ― que foi sentenciado a três anos de prisão por assédio sexual em 2018 ― e do cantor R. Kelly, são os mais recentes envolvendo pessoas famosas e a mesma natureza: abuso sexual. 

A força do #MeToo

Em 2017, as denúncias contra Weinstein cresceram e o movimento ganhou força. A hashtag #MeToo ganhou proporção para que outras mulheres, não só de Hollywood, mas do mundo, pudessem falar sobre os casos de assédio que já viveram ou presenciaram. Assim, a tag se tornou símbolo de uma luta.

Conforme as denúncias se tornavam públicas à época, Weinstein fez inúmeras tentativas para silenciar alguns casos e desmoralizar a imprensa. Para isso, contratou investigadores particulares para desenterrar informações sobre as mulheres e os jornalistas que escreviam sobre os crimes que cometeu.

Logo no início de 2018, repórteres do Times e da New Yorker, Jodi Kantor, Megan Twohey e Ronan Farrow, respectivamente, receberam o Prêmio Pulitzer pelo serviço público prestado à sociedade com o trabalho realizado.

Enquanto Weinstein foi demitido da produtora que ele mesmo havia ajudado fundar, a “The Weinstein Company”, e também foi expulso de organizações renomadas do universo cinematográfico norte-americano como a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pelo Oscar, o Producers Guild of America e da Academy of Television Arts and Sciences.

Indiciado por estupro e abuso sexual em maio de 2018, o magnata foi preso, mas cumpre prisão domiciliar e faz uso de tornozeleira eletrônica. 

(Com informações da Reuters e agências internacionais)

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